Na semana que antecedeu o início oficial da campanha eleitoral, o YouTube acelerou a remoção de vídeos que infringem suas regras e derrubou ao menos 62 conteúdos de 16 canais de esquerda -- a maior punição conjunta efetuada a opositores do governo de Jair Bolsonaro (PL) na plataforma. Metade desses conteúdos traziam os termos "facada", "Adélio" e "fakeada" no título, o que sinaliza empenho da plataforma em derrubar desinformação sobre o atentado sofrido por Bolsonaro em 2018.
A informação consta em relatório semanal de análise de redes e política divulgado por Essa tal rede social e Novelo Data. A pesquisa monitora 113 canais de esquerda no YouTube desde agosto de 2019. O levantamento mostra ainda que os canais mais atingidos foram os atrelados ao site Brasil 247, com 30 vídeos derrubados. O veículo é responsável pelo documentário "Bolsonaro e Adélio -- Uma fakeada no coração do Brasil", que questiona a agressão de Adélio Bispo ao então candidato a presidente Jair Bolsonaro, em Juiz de Fora (MG).
Alguns exemplos de vídeos removidos são "Bolsonaro e a facada! Cada vez mais fake! Canastrão", "Internação fake de Bolsonaro corrobora fakeada", "Vídeo revela a farsa armada por Jair Bolsonaro sobre facada" e "Por que a mídia esconde a fakeada?". Além do próprio documentário no canal TV 247, também constam na lista materiais criticando a Folha de S. Paulo, que teria "comprado a versão oficial" sobre o atentado. O jornal noticiou em setembro do ano passado que petistas estavam estimulando a tese fantasiosa de que a facada de Adélio teria sido forjada.
Em nota publicada em seu site, a TV 247 disse que a remoção dos vídeos "constitui censura e grave ataque à liberdade de expressão" e anunciou que tomará medidas judiciais contra o YouTube.
O YouTube distribuiu ainda 98 punições a canais de extrema-direita na semana passada. O principal alvo foi um podcast focado em investimentos que envereda pela política com viés bolsonarista. A lista de 84 remoções em um único dia traz trechos de entrevistas com o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e o ex-secretário da Cultura Mário Frias (PL-SP) contendo ataques ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes e à TV Globo, por exemplo.
O YouTube removeu ainda a apresentação de Jair Bolsonaro a embaixadores, em que o presidente acusou o sistema eleitoral de ser fraudulento e promoveu desinformação sobre as urnas eletrônicas. Os vídeos foram removidos de sua conta oficial -- 38ª punição, na contagem da pesquisa -- e também do repositório da TV Brasil.
"Analisadas em conjunto, as ações mostram que o YouTube pretende adotar uma estratégia de moderação de conteúdo durante as eleições que, como diz o ditado popular, dá uma no cravo, outra na ferradura", escrevem os pesquisadores.