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A disputa eleitoral nas redes sociais

Grupos de Telegram e WhatsApp espalham teorias da conspiração mais radicais sobre o comunismo

Mensagens pedem intervenção militar para 'libertar o povo brasileiro'

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Por Redação
Atualização:

Por Levy Teles, Samuel Lima e Gustavo Queiroz

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Em grupos de WhatsApp e Telegram, a retórica anticomunista costuma ser mais radical. Dezenas de usuários formulam teorias da conspiração relacionadas ao período eleitoral e pedem intervenção militar para "libertar o povo brasileiro".

Levantamento do Monitor do WhatsApp e do Telegram da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) encontrou 3.885 mensagens em 485 grupos bolsonaristas no aplicativo do grupo Meta e 1.842 em 79 grupos do mensageiro russo nos últimos 90 dias sobre o tema.

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A mensagem mais compartilhada no WhatsApp tenta justificar a tortura, o AI-5 e ataques ao Supremo Tribunal Federal (STF) feitos pela ditadura militar como formas de vencer uma suposta ameaça comunista no Brasil.

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Manifestantes pedem que Bolsonaro salve o Brasil do comunismo no 7 de Setembro. Foto: Lauriberto Pompeu/Estadão

O texto convoca a população a impedir que a ideologia domine "o Brasil de vez" e diz que quanto mais alguém usa a palavra "democracia", mais comunista a pessoa é. "Basta ver a República Popular Democrática da Coreia do Norte", diz. Este e outros conteúdos parecidos alcançaram pelo menos 87 grupos, com o potencial de atingir cerca de 44,5 mil pessoas.

Para a cientista política Daniela Mussi, o uso do termo está cada vez mais associado a uma perspectiva antidemocrática. "O comunismo se torna um significante vazio, uma espécie de embalagem onde se coloca o inimigo a ser combatido, Não só no sentido das ideias, mas de sua própria existência como expressão política", afirmou.

No Telegram, todas as cinco principais mensagens pedem para que as Forças Armadas intervenham para "libertar o povo brasileiro" do comunismo. Uma mensagem em circulação diz que o comunismo "mata a democracia" e enumera apenas oito países de direita no planeta. "Entendam, a guerra não é só de ideologia política ou de ambição financeira. A guerra é do mal contra o bem. O Brasil é a última barreira contra o mal", diz parte do texto.

Nos grupos, são reproduzidas diversas teorias da conspiração que acusam o PT e os comunistas de organizarem uma fraude eleitoral. "Dentro das regras, Bolsonaro está reeleito, sem sombra de dúvidas. Fora das regras, os comunistas tomam o poder", diz um dos textos.

Como mostrou o Estadão, bolsonaristas contrariam o que dizem as pesquisas e investem, sem provas, em uma narrativa de que há uma fraude eleitoral em curso no País. A hipótese é chancelada pelo presidente, que repetiu o argumento em entrevistas dadas em viagem ao Reino Unido e aos Estados Unidos de que vencerá no primeiro turno.

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"Essa suposta ameaça é acionada a depender do momento e do calor da corrida eleitoral, como uma tentativa de atrelar a campanha do adversário a um contraponto negativo", afirmou Viktor Chagas, pesquisador da Universidade Federal Fluminense (UFF).

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Em 2018, o grupo de pesquisa de Chagas identificou que o termo costumava circular com mais frequência nos dias em que eram divulgadas pesquisas e notícias desfavoráveis a Bolsonaro.

De modo geral, os aplicativos defendem a livre manifestação de pensamento, sem violação de políticas de uso. Procurado, o WhatsApp afirmou que conteúdos ofensivos e possivelmente ilegais devem ser denunciados às autoridades competentes. Também disse que colabora com autoridades brasileiras e bane contas e grupos imediatamente com base em ordens judiciais. Já o Telegram respondeu que chamados à violência são removidos e usa uma combinação de moderação de canais somada a denúncias de usuários para remover conteúdos que violem os termos de serviço.

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