Foto do(a) blog

A disputa eleitoral nas redes sociais

Bolsonaristas usam o WhatsApp e Telegram no 7 de Setembro para atacar urna eletrônica

Mensagens dizem que haverá fraude se o presidente não vencer a eleição no primeiro turno; especialistas afirmam que movimento se assemelha à contestação do voto nos Estados Unidos

PUBLICIDADE

Foto do author Levy Teles
Por Levy Teles
Atualização:

Num dia marcado por manifestações de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (PL) no bicentenário do Dia da Independência, bolsonaristas usaram o Telegram e WhatsApp para atacar a legitimidade do processo eleitoral e insistir numa tese de fraude a acontecer no dia 2 de outubro.

Em comum, as mensagens falam que haverá manipulação em qualquer resultado que aponte que Bolsonaro não vença a eleição no primeiro turno e também dizem que a esquerda irá aplicar uma fraude e colocar seus governadores, deputados e senadores no poder, impossibilitando o chefe do Executivo de governar, caso ele vença.

No discurso no Rio de Janeiro neste dia 7, Bolsonaro defendeu os empresários investigados pelo STF. Foto: Ricardo Moraes/Reuters

PUBLICIDADE

A mensagem que mais que circula no Telegram sobre o tema, segundo levantamento do Laboratório de Humanidades Digitais da Universidade Federal da Bahia (LABHD/UFBA) em parceria com a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o InternetLab fala que há um plano para manipular as eleições para governador e para o legislativo federal.

"Acham mesmo que Freixo, Benedita, Taliria Petrone, entre outros trastes, estão lá porque foi o 'povo que votou'?", questiona um usuário, num grupo com mais de 60 mil seguidores. "Não podemos aceitar fraude nesses cargos novamente como fizeram em 2018", finaliza. São entre 150 e 160 mensagens sobre fraude no Telegram nos últimos dias, de acordo com esse trabalho.

Uma outra mensagem que circula em grupos bolsonaristas no Telegram fala que interlocutores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reconhecem que Bolsonaro teria legitimidade para insistir na "tese de uma eventual fraude" a partir das imagens produzidas nesta quarta-feira. O mesmo texto apareceu num perfil bolsonarista no Twitter, e teve mais de 5 mil curtidas.

Publicidade

No discurso no Rio de Janeiro neste dia 7, Bolsonaro defendeu os empresários investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e voltou a dizer que, caso reeleito, todos terão de agir dentro das quatro linhas da Constituição. Ao Jornal Nacional em agosto, o presidente afirmou que respeitaria o resultado das eleições, mas com uma condição: "Desde que as eleições sejam limpas e transparentes."

A Polícia Federal, já no ano passado, negou que as urnas eletrônicas tenham sido alvo de investigações da corporações relativas a fraudes, desde que o sistema eletrônico foi implementado no Brasil, em 1996. Em resposta às investidas de Bolsonaro, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) também divulgou uma lista de fatos para contrapor as 20 alegações contadas pelo presidente sobre o processo eleitoral. Entre elas a que um hacker teve acesso a todas as informações internas da Corte.

"É simultaneamente uma retórica que distensiona no curto prazo mas que mantém no horizonte a mobilização para o médio e longo prazos", diz o professor de Estudos de Mídia da Universidade Federal Fluminense (UFF) Viktor Chagas. "Há um certo discurso no ar de que Bolsonaro não poderia dar um golpe agora, porque estamos às vésperas das eleições, então, é preciso ser paciente, votar, e esperar pela vitória ou pela intervenção no futuro."

Outra mensagem que começou a circular no Telegram neste dia 7 indica que, se as eleições ocorrerem "sem fraudes", Bolsonaro vencerá a eleição no primeiro turno com 60% dos votos válidos. Caso isso ocorra, o presidente teria um "cheque em branco" para "passar o rodo com a força militar, purificando tudo o que estiver arbitrariamente e com verniz de institucionalidade intoxicando e inviabilizando o Brasil como Estado de Direito". Esse texto alcançou pelo menos 4,4 mil pessoas.

No WhatsApp, uma das mensagens que mais circulam neste dia 7 em grupos bolsonaristas segundo levantamento feito por Viktor Chagas, da UFF, diz que é preciso "usar o cérebro e não o fígado" para que nenhum episódio de violência vire como um 6 de janeiro e leve à cassação da candidatura do presidente. "Se (Bolsonaro) acionar o Exército 30 dias antes das eleições o mundo vai pensar que ele está tomando o poder, e vem essa esquerda de países comunistas vizinhos invadir aqui, dizendo que é pra nos salvar", afirma o texto.

Publicidade

Ao longo da manhã, apoiadores do presidente compartilharam diversas mensagens pedindo para que os manifestantes não levassem faixas pedindo intervenção. "Soube que o Bolsonaro não pode mais fazer intervenção (não sei se é fato) porque está próximo às eleições. Então agora é esperar pra ver o que vai dar", diz uma mensagem que circulou tanto no WhatsApp e no Telegram.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

No discurso no Rio de Janeiro neste dia 7, Bolsonaro defendeu os empresários investigados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e voltou a dizer que, caso reeleito, todos terão de agir dentro das quatro linhas da Constituição.

Patrícia Rossini, professora de Comunicação, Mídia e Democracia da Universidade de Glasgow, acredita que está em formação no Brasil um movimento de descredibilização do processo eleitoral como foi o Stop the Steal, um movimento favorável a Donald Trump que surgiu nos Estados Unidos durante a apuração do resultado da eleição presidencial americana, que levou à articulação da invasão ao Capitólio americano no dia 6 de janeiro. Cinco pessoas morreram no incidente.

"A diferença é que, nos EUA, o movimento de descredibilização e ataque à votação remota aconteceu poucos meses antes da eleição. Essa retórica de questionar a validade das eleições começou em meados do ano e no Brasil já começou há mais de um ano", afirma a pesquisadora, que monitorou a incivilidade nas campanhas presidenciais americanas nas redes sociais em 2016 e 2020.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.