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A disputa eleitoral nas redes sociais

Nas redes, apelo de Bolsonaro para liberar estradas é visto como incentivo para migrar a quartéis

Apoiadores pedem a continuidade dos atos antidemocráticos após a vitória de Lula

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Por Samuel Lima
Atualização:

Por Samuel Lima e Levy Teles

A maioria dos grupos de Telegram que convocam e organizam protestos golpistas após as eleições entendeu o segundo pronunciamento do presidente Jair Bolsonaro (PL), publicado em suas redes sociais, como um pedido para desobstruir as estradas mantendo a mobilização ativa.

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Em vídeo publicado em suas redes sociais na noite de quarta-feira, 3, Bolsonaro fez um "apelo" para que os manifestantes desobstruíssem as rodovias, para não prejudicar o direito de ir e vir das pessoas e a economia brasileira. 

"Isso não faz parte, no meu entender, dessas manifestações legítimas. Não vamos perder essa nossa legitimidade. Outras manifestações vocês estão fazendo no Brasil todo, nas praças. Faz parte do jogo democrático. Fiquem à vontade", declarou Bolsonaro. "Não pensem mal de mim", disse o presidente em outro trecho. "Estou com vocês e tenho certeza que vocês estão comigo."

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O recado foi mais direto nas redes do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do presidente. "Não parar, não precipitar, não retroceder. Presidente @jairmessiasbolsonaro pede apenas que desobstruam rodovias. Manifestar-se em qualquer lugar é constitucional e parte da nossa democracia", escreveu o parlamentar no Instagram. A imagem circula em grupos de Telegram para reforçar o entendimento de que os protestos não devem cessar.

"Direcionem as forças das manifestações nos quartéis militares de suas cidades! Lembrem-se que ele (Bolsonaro) disse estar do nosso lado", mostra uma mensagem encaminhada em pelo menos quatro grupos diferentes no Telegram. "Liberem as rodovias e vão para os quartéis militares. Foi isso que o capitão disse, fiquem ligados", afirma outra publicação.

Um influenciador administrador de um grupo de mais de 20 mil usuários no Telegram foi um dos que mudaram a estratégia. Ele, que disse inicialmente que os apoiadores não deveriam estar nos quartéis e ocupar as rodovias, mas agora pede para que os apoiadores se agrupem em frente a alojamentos militares. Ele coordena a doação de alimentos, pequenos fogões e banheiros químicos para ajudar na permanência dos manifestantes. 

Até mesmo o cenário escolhido por Bolsonaro para gravar o vídeo gera especulações nas redes bolsonaristas. Usuários afirmam que o presidente frequentemente exibia com as mãos o Brasão de Armas do Brasil que estava gravado na mesa. Seria um sinal de que ele espera a continuidade dos protestos para implantar uma ditadura -- o prazo, que antes era de 72 horas, passou a ser de 16, 18 ou 21 dias. 

Críticas e desconfiança

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Enquanto os principais influenciadores defendem a migração dos atos para os quartéis militares, grupos mais extremistas, como os de nazistas que apoiam os atos, entendem que o presidente Jair Bolsonaro recuou ao pedir a desobstrução das estradas.

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Em outro canal que simula notícias nas redes bolsonaristas no Telegram, a reação é majoritariamente de apoio, mas também há reações negativas, como emojis de palhaço e de fezes. Grupos de apoio aos bloqueios ainda registram acusações de que os críticos à declaração do presidente seriam infiltrados, e não adeptos da intervenção militar. 

"Alguém ainda conta com esse covarde?", escreveu um usuário ao comentar o vídeo. Apoiadores de Bolsonaro o defendem na sequência, dizendo que o político age estrategicamente, enquanto outro responde: "É infiltrado, típico esquerdista".

Do lado da oposição, a principal crítica verificada no Twitter desde que incide sobre supostos acenos nazistas em Santa Catarina, que estão sendo investigados pelo Ministério Público. Em apuração preliminar, a Promotoria declarou que não viu intenção de apologia ao nazismo e indícios de prática de crime.

O termo "nazista" chegou aos trending topics do Twitter brasileiro. O assunto voltou a repercutir nesta quinta-feira, 4 de novembro, com uma declaração pública do embaixador da Alemanha, Heiko Thoms, que classificou o episódio como "profundamente chocante".

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A mensagem foi recebida com ambiguidade em grupos nazistas do Telegram. Em um, que apoia as manifestações e tem a adesão de bolsonaristas, usuários apontaram o que seria uma saudação à bandeira enquanto outros celebraram. "Vincere, vinceremo", escreveu um usuário, reproduzindo a fala de um discurso do ditador fascista italiano Benito Mussolini.

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