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A disputa eleitoral nas redes sociais

Esquerda supera bolsonaristas nas redes com vídeo sobre maçonaria e desinformação

‘Guerra santa’ virtual tem mais engajamento de apoiadores de Lula ante aos de Bolsonaro; no YouTube esquerda dobra visualizações

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Por Redação
Atualização:

Por Samuel Lima e Levy Teles

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Na "guerra santa" travada no segundo turno em torno de temas religiosos, apoiadores do petista Luiz Inácio Lula da Silva conseguiram mais engajamento nas redes sociais do que seguidores do presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição pelo PL. Enquanto bolsonaristas espalharam um vídeo sobre o suposto apoio de um influenciador satanista a Lula, opositores de Bolsonaro resgataram uma gravação antiga do presidente em uma loja maçônica, passaram a se infiltrar em grupos e espalhar desinformação.

Levantamento feito por Letícia Capone e Vivian Mannheimer, do grupo de pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio, aponta que o engajamento de perfis e canais de esquerda com os termos "maçonaria", "satanismo" e "pacto" superou em mais de quatro vezes o de apoiadores de Bolsonaro no Facebook e no Instagram: 738 mil a 166 mil interações nas duas plataformas somadas. No YouTube, conteúdos da esquerda geraram mais do que o dobro de visualizações - 1,2 milhão, ante 565 mil.

Como forma de amplificar a mensagem, apoiadores de Lula passaram a se infiltrar em grupos bolsonaristas com dados de perfil que simulam pessoas decepcionadas e dispostas a mudar o voto no segundo turno. Foto: Mauro Pimentel/AFP

A direita bolsonarista tradicionalmente tem ampla vantagem nessas métricas. Para Capone, não há apenas uma razão capaz de explicar os motivos de a esquerda ter saído na frente neste início de segundo turno. "Pode ter sido pela novidade, uma narrativa geralmente adotada pela extrema-direita, de perseguição à fé, ou porque não houve uma reação forte do outro lado", diz.

O conteúdo que serviu de munição para apoiadores de Lula mostra Bolsonaro, antes da eleição de 2018, tentando angariar apoio em uma loja da maçonaria. Ainda que não haja uma relação direta com a religião, a organização é malvista por evangélicos - eleitorado no qual, segundo pesquisas de intenção de voto, o presidente lidera. Dali em diante, a desinformação tomou conta da pauta.

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 Foto: Estadão

Perfis de esquerda espalharam que Bolsonaro seria maçom e satanista - não há nenhuma evidência disso - e contas compartilharam imagens adulteradas com um quadro do ídolo pagão Baphomet na parede. Até o atentado sofrido por Bolsonaro há quatro anos e a vinda do coração de d. Pedro I para o 7 de Setembro deram combustível para a desinformação.

A esquerda passou a espalhar vídeo do ex-deputado Cabo Daciolo (PDT) acusando o presidente de forjar a facada, e insinuações sobre necromancia (prática de magia envolvendo a comunicação com mortos) com o imperador surgiram, com supostas ligações com planos secretos maçons.

Magali Cunha, pesquisadora do Instituto de Estudos da Religião (Iser) e colaboradora do Conselho Mundial de Igrejas, aponta que há uma rejeição grande por parte de grupos evangélicos à maçonaria. Ela adiciona que a mensagem surtiu efeito em grupos de WhatsApp evangélicos a que ela tem acesso. "Muitos comentários, vários de decepção, e isso, de fato, afetou a campanha a ponto de (o pastor) Silas Malafaia ter se pronunciado. Esse pronunciamento é um sinal do alcance", disse.

Como forma de amplificar a mensagem, apoiadores de Lula passaram a se infiltrar em grupos bolsonaristas com dados de perfil que simulam pessoas decepcionadas e dispostas a mudar o voto no segundo turno. O levantamento das pesquisadoras da PUC-Rio indica ainda que o conteúdo de maior repercussão sobre o assunto foi uma live de André Janones (Avante-MG), na frente do Templo de Salomão, em São Paulo.

"A gente não sabe o que Bolsonaro negociou na maçonaria para apoiarem ele", disse. O vídeo teve 1,5 milhão de visualizações, 123,4 mil curtidas, 123,6 mil comentários e 88 mil compartilhamentos no Facebook.

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Em live, Bolsonaro se manifestou sobre o vídeo. "Fui, sim. Acho que foi a única vez que eu fui numa loja maçom. Eu era candidato a presidente e pouca gente sabia", disse. "Sou o presidente de todos. Agora a esquerda faz um estardalhaço. O que eu tenho contra os maçons? Não tenho nada."

Segundo o Monitor de Redes do Estadão, a "guerra santa" ainda repercute. Anteontem, foram contabilizados mais de 500 mil menções sobre o assunto no Twitter, e o nome de Bolsonaro era o mais associado nos posts. A pauta teve influência nas buscas no Google. A procura por maçonaria, por exemplo, aumentou mais de 50 vezes às 12 horas de terça.

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