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A disputa eleitoral nas redes sociais

Bolsonaristas reforçam nas redes atos em quartéis mesmo após relatório dos militares não apontar fraude em urnas

Presidente e filhos não se pronunciaram em suas contas, enquanto aliados e influenciadores com menos seguidores criticam suposta ‘falta de transparência’ do TSE

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Atualização:

Por Levy Teles e Samuel Lima (atualizado 10/11/2022, às 17h)

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Mesmo após o Ministério da Defesa enviar um relatório ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) apontando que não houve fraude nas eleições e ainda reconhecer que os boletins de urnas e os resultados divulgados pela Corte eleitoral são idênticos, apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) reforçaram, nas redes sociais e em aplicativos de mensagens, apelos para que os manifestantes continuem protestando na porta dos quartéis em todo o País.

Algumas mensagens atacam, ainda, a "inércia" das Forças Armadas, que passaram três meses fiscalizando o processo eleitoral, e dizem que cabe ao povo a contestação eleitoral. Em grupos de Telegram que organizam os atos, apoiadores alegam supostas "inconsistências" apontadas no ofício do ministro da Defesa, general Paulo Sérgio Nogueira, e elaboram teorias da conspiração afirmando que a ação é apenas mais um passo rumo a evidenciar a suposta fraude eleitoral, que mais uma vez carece de provas.

O movimento se consolidou depois de uma "nota oficial" divulgada pelo Ministério da Defesa no Twitter. O conteúdo declara que não foi afastada alguma possibilidade de fraude no pleito, ainda que os militares não tenham encontrado nenhum indício de manipulação de votos. O relato destoa do Tribunal Superior Eleitoral, que ontem destacou que o relatório não apontou a existência de nenhuma fraude ou inconsistência nas urnas eletrônicas e lembrou que 120 observadores estrangeiros e oito instituições do País reiteraram a credibilidade do sistema.

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Até a tarde desta quinta-feira, 10 de novembro, nem o chefe do Executivo, nem seus três filhos políticos -- o senador Flávio, o deputado federal Eduardo e o vereador do Rio de Janeiro (RJ) Carlos Bolsonaro -- se pronunciaram sobre o documento. Coube aos influenciadores e alguns aliados do governo o papel de manter a base bolsonarista motivada. 

Os manifestantes que permanecem nas porta dos quartéis dizem não reconhecer o resultado das urnas, que deram a vitória a Lula. Foto: Wilton Junior/Estadão

Da tropa de choque do Planalto, os senadores Luis Carlos Heinze (Progressistas) e Marcos Rogério (PL) e o deputado federal Filipe Barros (PL) atacaram as urnas e o TSE. Heinze disse que protocolou um pedido de investigação no Ministério Público Federal com base em "fragilidades" apontadas pela Defesa. Barros publicou em suas redes um trecho de discurso no plenário em que ignora a ausência de constatação de fraude e acusa a Justiça Eleitoral de falta de transparência. Rogério alegou que a nota técnica não é capaz de provar a lisura do processo eleitoral.

Segundo o Monitor de Redes Sociais do Estadão, foram contabilizadas mais de 456 mil mensagens no Twitter citando diretamente o relatório de fiscalização das urnas eletrônicas do Ministério da Defesa. Entre as hashtags mais usadas, destacam-se termos contrários, como #FakeNews e #BolsonaristaOtario, e pedidos de intervenção militar, com a #SOSForçasArmadas. Os termos "Defesa" (206 mil tuítes) e a abreviação "FFAA" (173 mil) entraram nos trending topics, que informam os assuntos que mais ganham atenção na plataforma, mas tiveram menos engajamento do que outros tópicos.

Reação bolsonarista

Antes da divulgação do relatório de fiscalização das urnas pelo Ministério da Defesa, na noite de quarta-feira, 9, existia uma expectativa de apoiadores -- parte deles acampados em frente aos quartéis em protesto contra o resultado das eleições presidenciais-- que o documento confirmaria a tese de que houve uma manipulação de votos. 

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O relatório aponta que não foram encontradas anomalias nos equipamentos e que a contagem de votos condiz com os boletins de urna analisados aleatoriamente, por amostra. Ainda assim, o ministro Paulo Sérgio Nogueira atendeu a base radical bolsonarista ao divulgar um ofício em que pede uma investigação técnica urgente sobre um suposto risco de que um "código malicioso" possa interferir no funcionamento dos aparelhos de votação.

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Nos primeiros instantes, predominou a sensação de frustração entre bolsonaristas nas redes. "É sério isso? Não acharam nada? Com tanto tempo que passou?", questionou um usuário num grupo do Telegram que organiza protestos pelo País poucos minutos depois da divulgação do ofício. "Tenham calma. Tudo isso já estava previsto. Confiem no capitão. Continuem nas ruas",  respondeu outra pessoa.

A reportagem encontrou diversas mensagens que convocavam o povo a sair de casa e que acusavam os mais decepcionados de "petistas infiltrados". A tática vem sendo adotada desde o início da mobilização bolsonarista que não aceita a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a fim de manter o discurso coeso e os militantes na rua. 

A possibilidade de nenhuma evidência concreta aparecer no relatório vinha sendo discutida desde cedo. No Telegram, mensagem encaminhada defende a continuidade "independentemente de qual venha a ser o conteúdo apresentado pelas FFAA (Forças Armadas)". O cenário se assemelha ao primeiro pronunciamento de Bolsonaro após as eleições, que foi entendido como uma espécie de mensagem cifrada para a continuidade dos atos.

Bolsonaristas apostaram ainda em hashtags em inglês para falar sobre a teoria da conspiração sobre manipulação eleitoral e pedir intervenção das Forças Armadas. Desde sábado, 4 de novembro, 173 mil usuários mencionaram os termos mais de um milhão de vezes. O principal, #BrazilWasStolen (Brasil foi roubado, em português), foi citado 820 mil vezes. Os dados são da Quaest Bit. Para os apoiadores, a estratégia é para consolidar apoio internacional, sobretudo em grupos de direita.

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Críticas da oposição

Opositores do presidente Jair Bolsonaro, por outro lado, desqualificam o papel do Ministério da Defesa na fiscalização do processo eleitoral e investiram em trocadilhos com nomes dos generais e divulgação de notícias falsas, em reação a uma peça de desinformação compartilhada pelo lutador de MMA Vitor Belfort. 

O deputado federal Orlando Silva (PCdoB) publicou no Twitter que "até o Ministério da Defesa reconheceu que não há fraude nas urnas" e disse aos manifestantes para "chorar na cama". "O discurso golpista já não tem mais no que se apoiar. Todos que insistem em atentar contra a democracia precisam ser punidos!", escreveu a deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL).

Os principais cabos eleitorais de Lula, no entanto, deram pouca importância para o assunto e preferem tratar sobre a transição de governo. Em entrevista, o petista declarou que "ninguém vai acreditar no discurso golpista de quem perdeu as eleições" e que cabe a Bolsonaro reconhecer a derrota e "respeitar a decisão da maioria do povo brasileiro". O vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), já havia declarado na terça-feira, 8, que o assunto competia apenas ao Judiciário.

No Twitter, o deputado federal André Janones (Avante-MG) alegou que o povo está mais preocupado "com o próprio estômago do que com a falsa narrativa sobre urnas" e convocou seus seguidores para um vídeo no Facebook em que novamente acusa Bolsonaro de querer acabar com o Auxílio Brasil. "Foco no que interessa!", declarou o deputado. Após a divulgação do relatório, Janones instruiu apoiadores no Telegram que reforçassem o assunto e ignorassem a discussão. O termo "Auxílio 600", impulsionado pelo deputado mineiro, seguiu como o assunto mais discutido na rede durante a noite. 

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"Relatório das Forças Armadas que os bolsonaristas tanto esperavam não aponta problemas na eleição. Esse lenga lenga golpista só está tentando desequilibrar nossa Democracia. Vamos defender o processo democrático e uma transição adequada para o governo do presidente Lula", escreveu o deputado federal Alexandre Padilha (PT), que faz parte do grupo temático da saúde. O PT aderiu, a exemplo da campanha, a grupos de WhatsApp para se comunicar diretamente com a militância sobre a transição de governo.

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