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A disputa eleitoral nas redes sociais

Bolsonaristas nas redes interpretam discurso do presidente como autorização para continuar protestos

Políticos e influenciadores enviaram mensagem de apoio a caminhoneiros

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Por Redação
Atualização:

Por Levy Teles e Samuel Lima

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Apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (PL) reproduzem nas redes sociais um trecho do discurso do chefe do Executivo nesta terça-feira, 1º, para defender a continuidade dos protestos que fecham rodovias pelo Brasil. No pronunciamento, Bolsonaro afirmou que "nossos sonhos seguem mais vivos do que nunca". A frase foi interpretada como uma autorização para a continuidade.

"Nosso sonho segue mais vivo do que nunca, sob a liderança de Jair Bolsonaro, respeitando a CF, sempre aplaudirei as manifestações pacíficas do povo brasileiro, de quem emana o poder. Viva o Brasil", escreveu o deputado federal Sanderson (PL-RS).

Ao longo do breve discurso, Bolsonaro apenas condenou ações que se assemelham à esquerda -- sem dizer precisamente o quê -- e reconheceu a legitimidade dos protestos. Foto: Wilton Junior/Estadão

Outros usuários entenderam a mensagem como uma referência oculta. "Quem pegou a mensagem, pegou", afirmou um usuário. Uma página de notícias bolsonaristas destacou que o mandatário "não reconheceu a vitória de Lula nem desmobilizou as manifestações dos caminhoneiros".

Poucos minutos depois do pronunciamento do presidente, as principais tags foram movidas por opositores. "Jair Frouxonaro" lidera o trending topics, seção que destaca os assuntos mais comentados do Twitter brasileiro.

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'Métodos da esquerda'

Ao longo do breve discurso, Bolsonaro apenas condenou ações que se assemelham à esquerda -- sem dizer precisamente o quê -- e reconheceu a legitimidade dos protestos. "As manifestações pacíficas sempre serão bem-vindas, mas os nossos métodos não podem ser os da esquerda", disse o presidente.

No Telegram usuários receberam a fala do presidente como uma autorização para manter os protestos que fecham rodovias pelo Brasil. Além de elogios ao pronunciamento, membros destacam que ele não pediu para que os protestos parassem.

"Bora para cima deles. Em nenhum momento o presidente mandou parar. Ele só falou para a gente não pegar os métodos que a esquerda pega", disse uma usuária em um dos grupos dos apoiadores. Nas demais redes sociais, predominava a narrativa que o silêncio do presidente sinaliza a autorização para os protestos, e, que, mesmo que ele reconheça a derrota eleitoral, ele pode ter sido orientado a agir dessa forma como coação.

"Independente do pronunciamento de Bolsonaro, seja qual for o tom da declaração, nada tem relação com o povo, que de forma espontânea e amparada pela Constituição está indo para as ruas demonstrando inconformidade. Constituição diz que todo poder emana do povo", escreveu Magno Malta (PL), senador eleito pelo Espírito Santo.

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"Bolsonaro não reconheceu derrota nenhuma e ainda disse que as manifestações são legítimas! Pra cima, Brasil! O povo vai salvar o País!", escreveu um influenciador no Twitter.

Antes do discurso, aliados do presidente prestaram apoio às manifestações. A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), antes de ter a conta retida no Twitter na tarde de hoje, escreveu: "Parabéns, caminhoneiros. Permaneçam, não esmoreça".

Twitter da deputada federal Carla Zambelli foi suspenso. Foto: Reprodução

O youtuber Gustavo Gayer, eleito deputado federal por Goiás, postou uma série de elogios aos protestos. "Deus abençoe os caminhoneiros", escreveu em uma publicação. A publicação foi removida minutos depois.

Críticas

Políticos da oposição a Bolsonaro ressaltaram o caráter vazio das mensagens. "Resumo da fala do presidente: após 48 horas de absoluto silêncio, ele vai deixar o cargo sem reconhecer a derrota", escreveu a senadora Simone Tebet (MDB), que ficou em terceiro lugar na eleição para presidente. Ela também removeu a publicação horas depois.

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"Contradição e ambiguidade no discurso pós derrota de Jair Bolsonaro", escreveu a candidata a presidente derrotada no primeiro turno Soraya Thronicke (União Brasil). "O método de causar confusão funcionou bem (para ele) até agora... Vamos então aguardar".

O deputado federal eleito Guilherme Boulos (PSOL-SP), um dos principais aliados do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chamou o discurso de Bolsonaro de "covarde".

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