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Lewandowski fora dos holofotes?

O ministro Ricardo Lewandowski manifestou em diversas oportunidades a intenção de deixar o STF fora dos holofotes da mídia. Como presidente do Tribunal ele realmente possui esse poder, na medida em que escolhe discricionariamente o que será julgado pelos demais 10 ministros; e com isso dita o perfil do STF. Em razão da enorme quantidade de processos que entram diariamente no Tribunal, cada presidente possui um amplo espaço de decisão a esse respeito. Porém, as escolhas realizadas pelo ministro possuem graves desvantagens.

Por Supremo em Pauta
Atualização:

 

Querer dar mais discrição ao STF significa gastar mais tempo julgando causas "miúdas" ao invés das "grandes" causas. A vantagem dessa opção é o combate à morosidade crônica do Judiciário, estruturalmente atolado por pequenas causas que não recebem respostas definitivas. Essa vantagem, porém, cobra um certo preço.

 

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Em primeiro lugar, não há neutralidade na escolha dos casos "miúdos". Apesar de não alcançarem as manchetes, podem ser muito relevantes. No seu mandato, muito tempo do STF foi dedicado à discutir benefícios da carreira da magistratura e de outros servidores públicos. Alguns casos laçaram a atenção da população como a "PEC da Bengala", bem como o aumento e extensão do benefício de auxílio-moradia a todos os juízes do país.

 

Em segundo lugar, gostemos ou não, o STF possui diversas funções e uma delas consiste em decidir casos relevantes de moralidade política, proteger minorias e calibrar a relação entre os Poderes.  Esse é um papel do qual o Supremo não pode se esquivar.

 

Ao deixar o STF na penumbra, o ministro Lewandowski faz muito mais do que uma mera opção de gestão administrativa. Reduzir a presença do Supremo no cenário nacional priva uma série de atores sociais de verem garantidos os seus direitos fundamentais. Além disso, ao abandonar o seu protagonismo político, o Tribunal fica abaixo do controle popular que poderia contrabalancear pressões que grupos e agentes poderosos podem exercer sobre a Corte; isso não é pouco nos tempos atuais.

 

 

Rubens Glezer e Lívia Guimarães, Coordenador e Pesquisadora do Supremo em Pauta da FGV Direito SP.

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