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Movimentos, direitos, ideias

Para historiador protestante que participou do Vaticano II, Igreja deve repensar ensinamentos na área de sexualidade

Por Roldão Arruda
Atualização:

Na edição desta semana, a revista católica America, editada nos Estados Unidos pela congregação dos jesuítas, publica um artigo do historiador e jornalista Martin E. Marty, professor emérito da Universidade de Chicago, sobre o Concílio Vaticano II. É um texto interessante, com as impressões de quem esteve lá, e, de maneira geral, o tom é positivo. A começar pelo título: Um Grande Despertar. A principal falha do evento, na avaliação do articulista, foi não ter discutido de maneira profunda temas relacionados à sexualidade. "Muito pouco sobre isso veio à tona no concílio", diz ele.

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Marty é protestante e foi como observador ao concílio, aberto no dia 11 de outubro de 1962. Decorridos 50 anos, ele afirma que o Vaticano II pode não ter sido uma revolução, mas alterou profundamente a maneira da Igreja agir e se relacionar com o mundo e é por isso que ela "tem muito a dizer sobre justiça, pobreza e ambiente". De outro lado, porém, "temas biológicos e sexuais" vão se tornando uma fonte de preocupação cada vez maior para seus doutrinadores.

Segundo o articulista, se um pesquisador perguntar aos católicos, especialmente os que estão passando da meia idade, sobre o que consideram importante discutir agora e sobre qual área a Igreja mais necessita de ideias novas, ele poderá ouvir respostas complexas, mas que, no fundo, podem ser condensadas na palavra sexo. Mais exatamente: na abordagem católica para questões relacionadas ao tema. Isso inclui elaborações tanto do ponto de vista biológico quanto ético, filosófico e teológico. As inquietações dos católicos, prossegue o articulista, estão codificadas com nomes conhecidos, tais como controle da natalidade, fertilização in vitro, divórcio, homossexualidade, aborto e outros.

Ao tentar explicar o motivo pelo qual a discussão foi evitada no concílio, o historiador aponta duas possíveis causas. A primeira seria por não se tratar de uma questão das mais preocupantes e urgentes para os bispos na época. A segunda seria a falta de preparo deles.

Marty observa que o livro com os documentos do Vaticano II possui 1.062 páginas. A parte dedicada especificamente a matrimônio e relações conjugais está limitada a dez páginas. Ele também observa que, no rodapé de uma das páginas, a 559, na edição do livro que ele cita, foi feita a observação, em letras miúdas, que certas questões, relacionadas a população, família e natalidade, requeriam estudos mais aprofundados e seriam repassadas para uma comissão de especialistas. Eles fariam os estudos e encaminhariam os resultados ao papa Paulo VI.  "A comissão não tem a intenção de propor soluções concretas no momento", acrescentava a nota de rodapé.

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Ao publicar o artigo, o editor da revista incluiu uma nota esclarecendo que o Vaticano II foi o 21º concílio da Igreja. Reuniu cerca de 2.500 bispos, em quatro sessões, no período de 11 de outubro de 1962 a 8 de dezembro de 1965. Podiam votar apenas os bispos e os chefes de congregações religiosas masculinas. Mas, pela primeira vez, não católicos e leigos foram convidados para as sessões, como ouvintes. Os protestantes e os ortodoxos enviaram cerca de 80 observadores. Martin E. Marty, que hoje é colunista de jornal, foi um deles. Acompanhou toda a terceira sessão.

Para quem se interessar, o artigo do historiador pode ser lido na íntegra na edição em PDF da revista, pela Internet. Para quem quiser ir além, os jesuítas criaram um site especialmente ao dedicado ao assunto, com o nome Conciliaria, que também está aberto na internet.

Este blog deverá publicar informações sobre o evento, até a festa do cinquentenário, em outubro. Este é o terceiro post.

 Acompanhe o blog pelo Twitter - @Roarruda

 

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