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Movimentos, direitos, ideias

Ato destaca colaboração de empresas com ditadura

Os debates em torno do golpe militar de 1964, que completa 50 anos no dia 31 de março, estão trazendo à tona, mais uma vez, a questão das empresas que colaboraram com a ditadura. Em São Bernardo do Campo, município da região do chamado ABC Paulista, com tradição no movimento sindical, elas chegaram a facilitar a infiltração de agentes policiais entre os trabalhadores para vigiá-los.

Por Roldão Arruda
Atualização:

Esse tipo de ação foi destacado no ato realizado no sábado, naquele município, para homenagear os operários perseguidos. Durante o evento, organizado pelas centrais sindicais que integram o Coletivo Sindical de Apoio ao Grupo de Trabalho Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical da Comissão Nacional da Verdade, o ex-sindicalista Djalma Bom disse que algumas fábricas se tornaram uma espécie de extensão dos quartéis militares.

Ainda segundo Djalma, que foi preso em 1980 juntamente com o então líder sindical Luiz Inácio Lula da Silva e hoje é diretor da Associação dos Metalúrgicos Aposentados Anistiados do ABC, os trabalhadores estão entre as maiores vítimas dos abusos cometidos pela ditadura. Para conter movimentos reivindicatórios e de contestação ao regime, os militares recorreram a diferentes instrumentos, afirmou. Foram do fim da estabilidade no emprego e intervenções nos sindicatos a prisões de lideranças.

 Foto: Estadão

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Djalma destacou a infiltração de policiais dos serviços de repressão nos locais de trabalho e a contratação ostensiva de militares para os serviços de segurança interna das empresas. Alguns deles eram destacados para conduzir as negociações com os sindicatos de trabalhadores. "Algumas empresas de São Bernardo tornaram-se verdadeiros quartéis. A Mercedes Benz tinha o general Queiroz para fazer contato com a diretoria do nosso sindicato", afirmou.

Ele também contou que, ao ser preso, descobriu que alguns de seus colegas nos piquetes grevistas eram agentes da Polícia Federal infiltrados nas fábricas. "Estavam infiltrados no movimento com carteiras assinadas e esquentadas pelas empresas."

A advogada Rosa Cardoso, integrante da Comissão Nacional e coordenadora do Grupo de Trabalho, participou do ato. "Sabemos que os trabalhadores como um todo sofreram com a ação da ditadura que redobrou a exploração de classe, visando acelerar a acumulação capitalista. Neste sentido os empresários solicitaram o uso da violência pelos agentes públicos contra a classe trabalhadora", disse.

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Também estava presente o presidente da Comissão Estadual da Verdade, deputado Adriano Diogo (PT). Em seu pronunciamento, ele disse que o relatório final da Comissão Nacional deveria apontar a responsabilidade dos empresários. "Sem as multinacionais que prepararam, financiaram, usufruíram do golpe e fizeram listas de trabalhadores e dirigentes sindicais para entregar aos militares, o regime não teria a força que teve e nem durado quanto durou", afirmou.

João Vicente Goulart, filho do presidente deposto pelo golpe militar, foi homenageado no encontro. Ele defendeu a retomada das reformas que estavam no centro da crise política de 1964. "As reformas tributária, urbana, educacional, bancária, a lei de remessa de lucros são mudanças que este país, 50 anos depois, ainda precisa fazer", disse.

Com informações do repórter Luiz Carvalho, publicadas no site informativo da CUT, e da Assessoria de Comunicação da Comissão Nacional da Verdade

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