O Globo: Candidato suspeito de ligação com milícias abre crise no PSOL

PUBLICIDADE

Por Lilian Venturini
Atualização:

Por O Globo

PUBLICIDADE

RIO - A presença de um suspeito de ligação com uma milícia na relação de candidatos a vereador do PSOL do Rio caiu como uma bomba e gerou uma crise na campanha de Marcelo Freixo a prefeito da cidade. Apesar de o candidato ter minimizado nesta quinta-feira o episódio, integrantes do partido admitem que a descoberta provocou incômodo e constrangimento, já que o combate às milícias é a principal bandeira de Freixo na campanha.

Pivô do escândalo, Rosenberg Alves do Nascimento, o Berg Nordestino, foi expulso do partido e teve ontem o pedido de cassação de registro de candidatura enviado ao Tribunal Regional Eleitoral pelo diretório estadual do PSOL.

A deputada estadual Janira Rocha, presidente regional do partido, disse que Berg Nordestino teve a candidatura plantada no PSOL com o objetivo de atingir a campanha de Freixo, que presidiu, em 2008, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou a ação de milícias, principalmente na Zona Oeste.

-- Já o expulsamos (Berg) do partido. Ele foi infiltrado pelo Deco (vereador Luiz André Ferreira da Silva, preso acusado de comandar uma milícia) -- declarou Janira.

Publicidade

Ela também anunciou uma varredura em toda a lista de 558 candidatos a vereador no estado (59 na capital) -- desses, 96 já foram considerados inaptos pelo TRE. O objetivo será tentar identificar possíveis filiados com suspeitas de ligação com grupos criminosos. A ficha de filiação de Berg Nordestino foi assinada em 8 de setembro de 2010. Segundo Janira, ele teria sido indicado por um advogado que mantém um trabalho social com o candidato a vereador.

Versões contraditórias

Ainda atônitos com a divulgação da ligação de Berg Nordestino com a milícia, desde quarta-feira à noite, os líderes do PSOL divulgaram informações conflitantes sobre como o assunto está sendo tratado no partido.

Anteontem à noite, Freixo informou que há duas semanas sua equipe já apurava o caso e que, desde então, tinha entrado em contato com o setor de inteligência da Secretaria estadual de Segurança Pública pedindo informações sobre Rosenberg. Na mesma noite, a presidente estadual do PSOL, Janira Rocha, apresentou a primeira contradição do caso, ao declarar que o PSOL só soube do caso quinta-feira da semana passada. Ontem, porém, deu outra versão. Disse que a desconfiança começou há duas semanas, como sustenta Freixo, depois que Berg insistiu em fazer campanha ao lado do candidato a prefeito, chegando a pedir que os dois gravassem para o programa eleitoral de TV.

Na manhã de quinta-feira, em debate na PUC-Rio, Freixo voltou a afirmar que sabia do caso há duas semanas. Ele afirmou ainda que já havia comunicado à Secretaria estadual de Segurança Pública a infiltração de Berg em sua campanha. Contudo, o contato oficial com a inteligência da polícia só foi feito às 21h da quarta-feira, depois que o caso já havia vazado.

Publicidade

Nesta quinta-feira, começaram a circular na internet as primeiras fotos de Berg ao lado de Freixo. O blog "Feijoada Política", que tem histórico de ataques ao candidato do PSOL, mostrou uma imagem de uma caminhada no Centro do Rio, onde Freixo aparece ao lado do deputado federal Chico Alencar (PSOL-RJ) e de Berg.

PUBLICIDADE

As milícias foram responsáveis por uma discussão anteontem entre Freixo e o prefeito Eduardo Paes, que tenta a reeleição, no debate realizado pela RedeTV! e pela "Folha de S.Paulo". Ao ser perguntado sobre uma reunião realizada em 2009 na prefeitura com a presença de milicianos, Paes disse que a pergunta era um "misto de leviandade com desespero" e que não pede "certificados de antecedentes criminais" a quem recebe em seu gabinete.

--Se até seu partido aceitou um miliciano, não sou eu que vou saber quem é miliciano ou não -- ironizou Paes.

Para Chico Alencar, a situação dará armas aos adversários de Freixo:

-- O (prefeito) Eduardo Paes, por exemplo, ganhou esse argumento. Não nego isso. Levamos uma chacoalhada, mas estamos tentando reagir. Foi uma surpresa, um constrangimento. Tudo isso passou desapercebido (pelo PSOL). É um incômodo. Não há mais o que fazer. Vamos seguir em frente. Tiramos uma pedra do rim -- disse Chico Alencar.

Publicidade

Ontem, na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Janira afirmou que haveria uma reunião da direção estadual do PSOL com o presidente nacional do partido, Ivan Valente, para discutir o assunto. Valente, no entanto, negou:

-- Foi um acidente de percurso que não muda em nada o projeto do PSOL. Não há crise alguma. O Freixo não é o responsável por permitir que uma pessoa (Berg Nordestino) tenha passado a barreira do registro de candidatura -- disse Valente.

O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) minimizou o impacto na campanha de Freixo:

-- Se o PSOL não tivesse tomado nenhuma providência, seria um constrangimento enorme. É da condição humana e partidária brasileira encontrarmos deformações desse tipo. O que diferencia é a postura partidária diante das decisões. Temos confiança total ao Freixo desde o início. Sua trajetória não precisa de solidariedade alheia. Temos total confiança no Freixo e o símbolo que ele representa.

CPI indiciou 226 pessoas

Publicidade

Freixo argumentou que, antes das convenções partidárias, o PSOL verificou se os candidatos tinham ficha criminal. No caso de Berg, nada foi encontrado. Freixo disse que o caso não prejudicará sua campanha:

-- Minha campanha está cada vez mais forte. Nossa atitude de expulsá-lo mostra a nossa diferença. Ele foi infiltrado pelo Deco, que foi o único que me ameaçou diretamente. Continuamos agindo com firmeza contra o crime organizado.

O relatório final da CPI das Milícias resultou no indiciamento de 226 pessoas suspeitas de envolvimento com grupos paramilitares no estado do Rio. No grupo, havia políticos, como o ex-deputado estadual Natalino Guimarães e os então vereadores Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, Nadinho de Rio das Pedras, Cristiano Girão e Deco, acusados de chefiar milícias.

Além de apontar a participação de políticos, policiais militares e civis e agentes penitenciários nas milícias, o documento apresentava às autoridades do estado e do município 58 sugestões para atingir as principais fontes de financiamento dos grupos chefiados por milicianos. Entre essas atividades, destaque para a exploração do transporte alternativo e a venda de gás.

Leia mais em O Globo

Publicidade

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.