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Por Mário Scheffer

Planos de saúde acendem uma vela para o PL, outra para o PT

No cofre de ambos os partidos, os valores mais elevados até agora recebidos de pessoas físicas vêm do mesmo grupo doador: os donos do Hapvida

Por Mário Scheffer
Atualização:

PT e PL, além das convenções nesta semana para a confirmação das candidaturas de Lula e Bolsonaro, têm mais algo em comum.

A família Koren de Lima, proprietária da Hapvida, operadora com forte atuação nas regiões Norte e Nordeste, doou R$ 750 mil ao PT e R$ 1,25 milhão ao PL. Foto: Divulgação/Hapvida

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No cofre de ambos os partidos, os valores mais elevados até agora recebidos de pessoas físicas vêm do mesmo grupo doador: os donos de um dos maiores planos de saúde do Brasil.

A família Koren de Lima, proprietária da Hapvida, operadora com forte atuação nas regiões Norte e Nordeste, doou R$ 750 mil ao PT e R$ 1,25 milhão ao PL.

De acordo com a atual legislação eleitoral, é vedado ao partido ou candidato receber dinheiro de empresas, mas empresários podem fazer contribuições individuais.

O valor arrecadado se soma ao fundo eleitoral de 4,9 bilhões de reais em 2022, criado justamente para evitar as doações de empresas, que persistem, porém camufladas.

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A participação financeira dos planos de saúde em campanhas presidenciais é uma tradição nacional, medida preventiva que adotam para que não sejam incomodados nos próximos quatro anos.

O investimento tem excelente custo-efetividade, os resultados alcançados superam em muito o volume de recursos reservados por empresários da saúde para o beija-mão eleitoral.

De 2002 a 2014, período em que a doação de pessoa jurídica era autorizada por lei, há registros no TSE de R$ 74,7 milhões repassados por planos de saúde a candidatos. Quase nada, perto da receita de um mercado que movimentou R$ 239 bilhões em 2021.

É que os planos de saúde não são de nadar contra a correnteza, basta apenas aguardar o remanso.

Por isso, acendem uma vela para cada santo, vem de longe essa prática de aparentar neutralidade em eleição.

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No passado, a Qualicorp financiou candidaturas rivais, de Dilma Rousseff e José Serra. No mesmo ano, a Amil doou para a campanha do PT à Presidência e para a de Geraldo Alckmin, então do PSDB, a governador.

Quem vê apenas a parte do dinheiro simbólico que vai para os comitês de partidos, não vê o coração do negócio.

O pinga-pinga eleitoral, quando muito, serve como cartão de visita para os grandes grupos do setor.

Movimentos de aproximação com futuros governos exigem olho no olho.

São jantares, viagens e reuniões, coletivas e individuais, ocasiões informais ou semiformais, nas quais, conversa vai, conversa vem, discute-se a ampliação dos mercados de cuidados à saúde.

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Esse é o papo reto, que passa longe de programas oficiais a serem depositados no TSE, produzidos para acomodar aliados, não perder votos e ao mesmo tempo agradar militâncias.

Já houve tempo em que coalizões partidárias, desse ou daquele matiz ideológico, causavam medo em empresários da saúde.

Eles passaram a dormir tranquilos quando constataram que os planos privados de saúde para trabalhadores, inclusive financiados diretamente com recursos públicos, são unanimidade entre os candidatos com chance de vitória.

Não haveria mais com o que se preocupar, desde quando decidiu-se que o Sistema Único se resume à rede pública, precária, desqualificada, para pobres e com raras ilhas de excelência.

Nessa operação de subtração, flagrantemente inconstitucional, ergueram pontes e castelos.

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Tiveram permissão para desregulamentar coberturas e aumentar mensalidades de planos de saúde, para promover fusões e aquisições, para buscar sem limites empresas e capitais estrangeiros.

Assistiram a ANS passar de mão em mão, negociavam antes com o antigo PMDB do Senado, hoje sabem que quem manda nas indicações de diretores da agência é o Progressistas.

Alguns se renderam a Bolsonaro, de tanto promover a cloroquina conquistaram a simpatia do Presidente. Foi o caso dos donos da Hapvida e da Prevent Senior, e de dirigentes de Unimeds, conforme documentado pela CPI da Covid.

Por afeição, podem até fazer um Pix para o PL, mas aos poucos vão virando a casaca, fecham também com o PT.

Sabem que sempre terão abertas as portas das salas do governo.

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