PUBLICIDADE

Foto do(a) blog

Por Mário Scheffer

Apoiadores de Bolsonaro tentam sequestrar o Dia do Médico; entenda

Entidades médicas apoiam evento marcado na Câmara dos Deputados em 18 de outubro pelo deputado Hiran Gonçalves; em vídeo, ele anuncia a presença do presidente candidato à reeleição e conclama: “Vamos lotar as galerias, o plenário, para dar ao povo brasileiro a nossa amostra de unidade”

PUBLICIDADE

Por Mário Scheffer
Atualização:

O presidente Jair Bolsonaro é aguardado na sessão da Câmara dos Deputados, no próximo 18 de outubro, em comemoração ao Dia do Médico.

PUBLICIDADE

Mas, a 12 dias do segundo turno, comparecer numa atividade de baixo alcance poderá ser interpretado como desprestígio do candidato nas ruas ou um desvario dos organizadores.

O sequestro do Dia do Médico, preso à bolha bolsonarista, foi iniciativa de Hiran Gonçalves (PP-RR), recém-eleito senador pelo Estado de Roraima.

Médico, deputado federal em seu segundo mandato, do mesmo Progressistas do presidente da Câmara, Arthur Lira, Gonçalves fez divulgar vídeo em que confirma a presença de Bolsonaro e conclama: "Vamos lotar as galerias, o plenário, para dar ao povo brasileiro a nossa amostra de unidade".

Quando presidente da Frente Parlamentar da Medicina, reduto de interesses do setor privado da saúde no Legislativo, o deputado foi autor de iniciativas que ora agradavam, ora dividiam entidades médicas e empresariais.

Publicidade

Durante a pandemia, apoiou desde o protocolo do governo liberando cloroquina para o tratamento da covid até o inviável programa Pró-Leitos, que criava incentivos para empresas que contratassem leitos privados em favor do SUS.

Relatório de sua autoria previu autorização da venda de planos de saúde populares que, por definição, excluem coberturas.

Como a medida reduziria o mercado de trabalho de especialistas, sociedades médicas lançaram nota de repudio à proposta, que logo sumiu de circulação.

 

Já quando o parlamentar agiu para manter atos privativos dos médicos, contra a "invasão" de outras profissões, recebeu elogios.

Sua fidelidade às Unimeds costuma gerar ciúmes nos segmentos de medicina de grupo e seguradoras, e sua chancela à lei que derrubou o rol taxativo de procedimentos contrariou todo o setor.

Publicidade

Dar uma no cravo e outra na ferradura como prática legislativa não impediu que o parlamentar e outros apoiadores do presidente tenham traçado para o Dia do Médico um roteiro de ficção do que vem a ser representatividade.

É possível supor que parte dos 564 mil médicos brasileiros vote em Bolsonaro.

Contudo, a profissão médica vem adquirindo nova fisionomia no País, está cada vez mais jovem e feminina.

Políticas afirmativas e créditos educativos permitiram que negros e pobres, embora ainda subrepresentados, se tornassem médicos.

É minoria, mas cerca de um quinto dos médicos trabalha exclusivamente no SUS.

Publicidade

Não foi desprezível a mobilização de médicos que denunciaram os ataques de Bolsonaro e seus aliados à ciência e à vacina.

Trabalhadores da saúde, de todas as ocupações, são dignos de homenagens, inclusive pelo que fizeram na pandemia. Não merecem ter sua imagem degradada em ato de apoio ostensivo à reeleição do presidente.

Devido à divisão do País nesta eleição, vincular toda uma categoria profissional, atribuindo a ela uma única identidade político-ideológica, sem consentimento ou delegação, é confisco da democracia.