Quando o agora mal-falado Tarp foi aprovado pelo Congresso em setembro do ano passado, seu objetivo inicial era comprar ativos tóxicos dos bancos para limpar os balanços. Dessa forma, as instituições voltariam a coinceder empréstimos. E investidores privados, sem medo de buracos que não param de crescer (vide Bank of America comprando o abacaxi do Merrill Lynch), se sentiriam mais seguros para investir nesses bancos, recapitalizando-os.
Mas o então secretário do Tesouro, Henry Paulson, esbarrou em um problema espinhoso - quanto o governo deveria pagar por esses papéis?
Como são papéis pouco líquidos, os bancos determinam o valor desses ativos em seus balanços usando seus prórpios modelos. Mas o valor que o mercado se dispõe a pagar é infinitamente inferior.
Se o governo pagasse o valor de mercado pelos papéis, ele acabaria de afundar os bancos, que recberiam US$ 0,10 por US$ 1 em papéis que eles precificavam a US$ 0,80 por US$ 1, por exemplo.
Mas se pagasse muito acima do mercado, o Tesouro iria enraivecer os milhares de americanos que estãoo sofrendo com uma crise criada por esses mesmos bancos - que seriam recompensados. Além de resultar em enormes gastos para uma economia que já tem quase US$ 12 trilhões de dívida.
Daí porque Paulson desistiu de comprar os ativos tóxicos e resolveu simplesmente injetar capital nos bancos.
Mas, como se viu, não foi suficiente. Sem livrar os bancos dos papéis tóxicos, o crédito não voltou a fluir, não houve investidores privados capitalizando bancos e os empresários continuaram sem acesso a financiamento.
Aí é que entra o fundo público-privado para compra de ativos tóxicos de Geithner. Nas palavras do Tesouro, a banco-ruim PPP tira das costas do governo a responsabilidade de determinar o preço desses ativos: "permite a compradores do setor privado determinar o preço de ativos problemáticos e ilíquidos".
Porém, parafraseando Garrincha, faltou combinar com os russos. Se os investidores privados quisessem, já estariam comprando esses títulos agora, mas não estão.
Para fazê-los mudar de idéia, o Tesouro terá de oferecer incentivos apetitosos, na forma de garantias sobre perdas desses papéis. Mas essas garantias terão de ser "precificadas". E é aí que caímos no mesmo problema: se forem muito altas, podem acabar saindo muito caras para o contribuinte. Se forem muito baixas, o governo não conseguirá atrair o investidor privado. É por essas e outras que alguns economistas "hereges" como Nouriel Roubini falam em nacionalização dos bancos, aqui já chamada de "palavra com a letra ene".