PUBLICIDADE

As calças de US$ 54 milhões

Por Estadão
Atualização:
 Foto: Estadão

Já estava sonhando com a minha vila na Toscana, já me imaginava tomando um sol nas Maldivas, comendo kaiseki num ryokan de Kyoto......

PUBLICIDADE

Mas o bom senso do sistema judiciário dos Estados Unidos estragou tudo.

Há mais ou menos dois anos, um tintureiro de Washington DC perdeu as calças de um juiz. Fato corriqueiro. O cliente deixou as calças de seu terno para serem alargadas e elas desapareceram. O juiz pediu US$ 1,200 para comprar um terno novo. Os coreanos deram de ombros.

Em vez de se conformar, o juiz resolveu lutar por seus direitos - e que direitos. Processou os tintureiros Chung e pediu uma indenização de US$ 54 milhões. Isso mesmo, US$ 54 milhões por uma calça. "Prometeram satisfação garantida e perderam minha calça, fui enganado", alegou o juiz Roy Pearson.

Hoje, um juiz do Tribunal Superior de DC decidiu que Pearson não vai levar um tostão - e ainda terá de arcar com as despesas legais dos Chung.

Publicidade

Os Chung vão dormir mais tranquilos. Mas meu sonho de férias milionárias acabou. Não vou ganhar nada dos tintureiros da minha esquina.

Há uns três meses, deixei uma malha de lã para consertar.

"Tem um buraco no punho", expliquei para a dona.

Dois dias, três dias, quatro dias depois, e nada.

"Está pronto meu suéter?"

Publicidade

"Espera um pouco. Ah, claro, já vou mandar".

Chega em casa um cardigan violeta com brilhos. Meu suéter era cinza com losangos.

"Este suéter não é meu."

"Como não, é sim!" - ela me diz, com aquela certeza exasperante.

"Eu sei que não é. Meu suéter é cinza, este é violeta."

Publicidade

"OK, vamos trocar."

No dia seguinte, entregaram o suéter. Ufa. Vou pendurar no armário e - surpresa - eis uma malha cor-de-rosa.

Respiro fundo.

"Minha senhora, vocês me trouxeram o pullover errado de novo. O meu é cinza, não rosa."

"Ah meu Deus, desculpe, vou resolver."

Publicidade

Dessa vez até que foi rápido. Depois de umas duas horas, ela trouxe o meu suéter. E era o meu mesmo, que alegria.

No dia seguinte, quero homenagear o filho que retornou à pátria. Visto o suéter cinza para trabalhar. Entro no metrô, está um pouco mais quente, tiro o paletó.

E lá está ele me encarando, com ar de chacota. O furo. No punho.

Valia pelo menos uns US$ 3 milhões por danos morais, não valia?

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.