Meirelles comanda seu último Copom

Fabio Graner / BRASÍLIA - O Estado de S.Paulo

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O Comitê de Política Monetária (Copom) reúne-se nas próximas terça e quarta-feiras pela última vez sob o comando do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Deverá, conforme a visão amplamente majoritária do mercado financeiro, manter a taxa básica de juros (Selic) nos atuais 10,75% ao ano. Na semana passada, as apostas em alta da Selic já em dezembro estavam crescendo por conta dos recentes (e elevados) índices de preços, mas a decisão do Banco Central e do Conselho Monetário Nacional (CMN) de adotarem medidas para restringir o crédito a pessoas físicas e retirar R$ 61 bilhões de circulação da economia por meio da alta nos depósitos compulsórios derrubou as apostas, sancionando a tese de manutenção da Selic. Foi certamente a última medida de impacto tomada por Meirelles, que sairá do BC com o presidente Lula. Em seu lugar assumirá Alexandre Tombini, já escolhido pela presidente eleita Dilma Rousseff. Dono do recorde de permanência à frente do BC, Meirelles enfrentou pressões internas de petistas no início do primeiro governo de Lula para baixar os juros, principalmente pela ala comandada pelo ex-ministro José Dirceu. Mas ele não as aceitou. Chegou a ser cobrado publicamente por isso pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, durante uma cerimônia no Palácio do Planalto. \"Presidente Lula, o Meirelles tem de baixar os juros\", disse Mantega. Meirelles não respondeu. Com sua política, conseguiu manter a inflação sob controle. Durante a crise econômica mundial que começou em 2008 e se estendeu por 2009, Meirelles liberou R$ 100 bilhões para irrigar o crédito, que estava escasso. A medida foi elogiada pelo presidente Lula e por Dilma Rousseff. O brasileiro voltou às compras e a economia se moveu. Agora, com o aquecimento elevado do consumo, o BC decidiu retirar R$ 61 bilhões de circulação. Ao sentir que Guido Mantega seria mantido no Ministério da Fazenda, Henrique Meirelles condicionou sua permanência à frente da instituição a uma atuação totalmente independente. Dilma optou então por substituí-lo por Tombini, diretor de Normas do BC. \"Mudou o padrão do mercado. Havia pressão da curva para mudar a Selic já na próxima semana, mas ficou claro que o BC não tem a mínima intenção de elevá-la em dezembro. Isso consolidou as apostas de manutenção dos juros\", avalia o economista-chefe do banco Schahin, Silvio Campos Neto. Para ele, as iniciativas anunciadas na última sexta-feira também reduziram as chances de um aperto monetário em janeiro. \"Isso está em aberto\", afirma. Neto destacou que a efetivação de uma rodada de alta de juros no ano que vem vai depender em grande medida do que vai ocorrer na parte fiscal. De fato, o BC já deixou claro que sua visão mais otimista sobre o cenário de inflação no horizonte de ação da política monetária se deve em grande medida à expectativa de um aperto fiscal pelo novo governo em 2011. Medidas prudenciais. Para o economista-chefe do banco WestLB, Roberto Padovani, o governo não deve alterar os juros na próxima reunião e possivelmente nem no ano que vem. Na visão dele, a estratégia do governo será de usar em sequência medidas prudenciais e compulsório, como anunciado na sexta-feira, depois a política fiscal e só em último caso, os juros. \"A tolerância do governo com a inflação aumentou. Isso é negativo porque inflação no Brasil é o dobro da média mundial\", avalia, destacando que essa estratégia deve fazer com que a inflação feche 2011 em torno de 5%. Além da questão fiscal, o Banco Central tem se apoiado muito na situação conturbada da economia internacional para não mexer na taxa Selic. As últimas atas do Copom explicitaram a avaliação de que o mundo tem contribuído para uma redução nos preços domésticos, controlando a inflação. A rigor, da última reunião do colegiado em outubro para cá, o quadro externo piorou, com os problemas fiscais de países como Irlanda, Portugal e Espanha.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.