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Direto ao assunto

Pimba na gorduchinha

Procurador do TCU põs ordem na discussão das contas de Dilma, chamando-as pelo nome real

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Por José Neumanne
Atualização:

Júlio Marcelo na comissão do impeachment Foto: Estadão

Segunda-feira 2 de maio de 2016

O procurador do Tribunal de Contas da União (TCU), Júlio Marcelo de Oliveira, conquistou este dia e ganhou os próximos três anos para o cidadão e contribuinte brasileiro ao pôr a limpo o processo de impeachment, deixando sem voz nem vez a "defesa" redundante, obstinada e obcecada da presidente Dilma Rousseff. Na comissão de impeachment do Senado, ele simplesmente esmigalhou o argumento da turma do "diga a Dilma que fique", demolindo a baboseira fantasiosa de que Fernando Henrique e Lula haviam praticado antes a mesma retirada a fundo perdido de recursos dos bancos públicos, a pretexto de bancar programas sociais que deveriam estar no Orçamento da União. Confesso que senti certo orgulho quando o vi retomar o argumento que tenho usado à exaustão, em textos no jornal e comentários na Rádio Estadão, de que urge evitar o truque semântico de usar atenuantes como "pedaladas fiscais" ou "contabilidade criativa" para definir crimes hediondos. Esses eufemismos cretinos não escapam à velha lógica aristotélico-tomista que aprendi com padre Bernardo no Instituto Redentorista Santos Anjos em Bodocongó, Campina Grande, Paraíba. Como diria Jack, o estripador, vamos por partes. Pedaladas referem-se àmolecagem de Robinho no jogo final do Campeonato Brasileiro de 2002, no qual o Santos venceu o Corinthians por 3 a 2 com decisiva participação do então atacante iniciante ao driblar repetidas vezes o lateral adversário Rogério, passando o pé por cima da bola, como se estivesse pedalando uma bicicleta. O procurador esclareceu, de forma direta e decisiva, a cretinice de empregar o nome do atrevimento do craque para substituir um sinônimo de crime, vulgo "fraudes fiscais". Em segundo lugar, "contabilidade criativa" é uma ova! Para o procurador, a expressão correta não é esta, muito utilizada para definir um truque de empresas para se aproveitarem de brechas legais e pagarem menos impostos do que, numa análise mais rigorosa do Fisco, teriam de despender. No caso, a definição de Oliveira tem uma precisão de cirurgião viciado em dicionário. A frase dele é lapidar (pode até servir como lápide do desgoverno Dilma, atualmente em fase de zumbi): "Em matéria de conta pública, criatividade é nome para fraude, é contabilidade destrutiva". Por que destrutiva? Ora, em que resultou a fraude do decreto do contingenciamento, que o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, a ministra da Agricultura, Kátia Abreu, e o advogado-geral da União, na prática causídico particular de madama, se cansaram de usar como desculpa esfarrapada e amarela ("de cego é feira ruim e saco furado", ensinava minha avó) para chancelar o crime da chefona? Em desemprego recorde de 11,1 milhão de trabalhadores (taxa de 10,9%), quebradeira da indústria, enfim, a maior crise econômica da História do Brasil. Ao estabelecer essa relação, Júlio Marcelo de Oliveira repetiu sua atuação brilhante na condenação das contas da "presidenta" no TCU. E agora matou a pau, Nicolau. Ou, como diria Osmar Santos, "pimba na gorduchinha".

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