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Direto ao assunto

Operação chaleira

O novo diretor da PF mostrou na posse preocupante sintonia de boneco com chefe e ventríloquo

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Por José Neumanne
Atualização:

Lisonjeado com presença de Temer na posse, Segóvia ganhou beijo da mulher, Tatiana Kalil Foto: Dida Sampaio/Estadão

Não se pode imaginar que um policial com os deveres e responsabilidades do diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segóvia, considere normal um ex-assessor da intimidade do presidente Temer tenha saído correndo de uma pizzaria com uma mochila contendo R$ 500 mil se nenhum cidadão consegue depositar R$ 10 mil num banco, legalmente, sem antes explicar direitinho a origem do dinheiro. Além disso, ele deixou de se referir a outros detalhes constrangedores, como o grito de Rodrigo de Joesley se identificando à guarda quando entrou no Jaburu para o encontro secreto fora da agenda na calada da noite, a filmagem da comédia grotesca da mala e o que se ficou sabendo da conversa, que o presidente não explicou. O que ficou do episódio é que o federal perdeu uma boa oportunidade de calar a boca. Talvez porque a avó dele, ao contrário da minha, não lhe avisou que em boca fechada não entra mosquito e que quem fala muito dá bom dia a cavalo.

(Comentário no Jornal Eldorado da Rádio Eldorado - FM 107,3 - na terça-feira 21 de novembro de 2017, às 7h30m)

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Abaixo, a íntegra da degravação do comentário:

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Eldorado 21 de novembro de 2017 - Terça-feira

O novo diretor da Polícia Federal, Fernando Segovia, disse na posse que Temer, que compareceu à cerimônia. continuará a ser investigado e questionou 'uma única mala' como prova, referindo-se a fuga de Rodrigo de Rocha Loures ao receber uma mochila com R$ 500 mil reais na Pizzaria Camelo, em São Paulo. É adequado para sua função?

Depois de se dizer lisonjeado com a presença de Michel Temer em sua cerimônia de posse, o novo diretor-geral da Polícia Federal, Fernando Segovia, disse que o presidente continuará a ser investigado com a "celeridade de todos os outros inquéritos". A afirmação de Segovia sobre a continuidade das investigações se deu diante da insistência de jornalistas. Mum primeiro momento, o novo diretor-geral havia dito que as investigações contra o peemedebista já haviam sido concluídas.

Segóvia criticou a Procuradoria-Geral da República que, na gestão Rodrigo Janot, denunciou uma primeira vez o presidente por corrupção passiva no caso da mala dos R$ 500 mil que a JBS pagou para o ex-assessor especial de Temer, Rodrigo Rocha Loures.

SONORA 2111 A SEGOVIA

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Para Segovia, 'a Procuradoria-Geral da República é a melhor indicada para explicar possíveis erros no acordo de colaboração premiada firmado com executivos do grupo J&F, entre eles, o empresário Joesley Batista'.

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

"Quem colocou esse deadline que finalizou a investigação foi a PGR, talvez seja ela melhor para explicar porque foi feito aquilo naquele momento e porque o senhor Joesley sabia quando ia acontecer para ganhar milhões no mercado de capitais", afirmou Segovia.

O ex-procurador-geral Rodrigo Janot reagiu às críticas à sua gestão pelo diretor da Polícia Federal. "Ele está fazendo o que foi contratado para fazer", afirmou o ex-chefe do Ministério Público Federal (MPF).

Para Janot, a Polícia Federal "nunca pontuou" a necessidade de mais tempo ou diligências. O ex-procurador-geral destacou que as operações foram realizadas em parceria com policiais federais. "As interceptações e ações controladas da primeira denúncia foram feitas por quem? DPF (Departamento de Polícia Federal)", disse. "E aconselho a ele a leitura do relatório do DPF que instruiu a segunda denúncia. O delegado responsável pela investigação tem opinião diversa", disse.

Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, também não gostou nem um pouco do que Segovia disse na entrevista coletiva depois da posse na Polícia Federal.Santos Lima escreveu no Facebook que não cabe ao diretor-geral da PF falar sobre investigações e que sua opinião pessoal é "totalmente desnecessária e sem relevância".Ele lembrou também a presença de Michel Temer na posse, pela qual o delegado se disse lisonjeado.

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Vamos começar pelo fim. A presença do presidente da República na posse de um policial na direção geral de um órgão de Estado, e não de governo, é um sinal de que o ventríloquo não poderia faltar a seu boneco. Foi um sinal inequívoco de apoio, que soa mal até porque o chefe imediato de Segóvia não gostou da escolha e isso ficou público. O novo diretor tem dado sinais de que foi posto no lugar para manter as coisas sob controle da chefia. Os repórteres que foram à posse registraram que suas críticas à briga por poder entre PF e MPF soaram muito mal na corporação que ele vai dirigir. As críticas duras e diretas ao MPF lembraram uma certa marchinha dos Anjos do Inferno de velhos carnavais. A menção à mala é extemporânea e absurda. A não ser que o delegado federal tenha chegado de algum planeta distante, não se pode imaginar que um policial com seus deveres e responsabilidades considere absolutamente normal um deputado da intimidade do presidente saia correndo de uma pizzaria com uma mochila contendo 500 mil reais se nenhum cidadão, em teoria até o presidente da República e o próprio Segóvia, consegue depositar dez mil reais num banco, legalmente, sem explicar direitinho a origem do dinheiro. Além do mais, deixou de se referir a outros detalhes constrangedores como o grito de Rodrigo de Joesley se identificando à guarda quando entrou no Jaburu para o encontro secreto fora da agenda na calada da noite, a filmagem da comédia grotesca da mala e o que se ficou sabendo da conversa, que o presidente não explicou. O que ficou do episódio é que o federal perdeu uma boa oportunidade de calar a boca. Talvez porque a avó dele, ao contrário da minha, não lhe avisou que em boca fechada não entra mosquito e que quem fala muito dá bom dia a cavalo.

SONORA RABUGENTO

Começa muito mal o rapaz. Mostrando muita pressa em mostrar serviço ao chefe, o que joga por terra suas vãs promessas de investigação dura da corrupção, celeridade e imparcialidade. Difícil acreditar.

O ministro do Supremo Tribunal Federal Luiz Fux disse ontem que "certamente" a Corte reverá a decisão da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro de soltar o presidente da Casa, Jorge Picciani, e os deputados Paulo Melo e Edson Albertassi - todos do PMDB. Será que o STF vai fechar a torneira vazando das assembléias estaduais depois do voto maroto de Cármen Lúcia liberando Aecinho para a naite?

"É uma decisão lamentável, que desprestigia o Poder Judiciário, gera uma sensação de impunidade e que certamente será revista pelo Supremo Tribunal Federal", afirmou em entrevista à BBC Brasil, na Inglaterra. O ministro está no país para um simpósio da Universidade de Oxford.

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SONORA 2111 FUX

O Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) determinou a prisão dos peemedebistas na quinta-feira, 16, no âmbito da Operação Cadeia Velha, acusados de corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.

Os deputados só dormiram uma noite na Cadeia de Benfica, no Rio. Na dia seguinte, a Alerj determinou, por 39 votos a 19, a soltura e a devolução dos mandatos a eles. No domingo, Picciani e Albertassi tiraram licença de seus cargos para trabalhar em suas defesas.

Ao livrar os peemedebistas, os deputados tomaram por base a decisão do STF sobre o senador Aécio Neves (PSDB-MG), em outubro. A Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu o recolhimento noturno e afastamento do mandato do tucano, mas a Corte determinou que seria preciso aval dos senadores - que, por sua vez, negaram os pedidos da PGR.

À época, Fux foi um dos que votou contra o aval do Congresso.

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A decisão do STF foi desastrada. E isso está obrigando os supremos magistrados a corrigirem o passo em falso. O fato do Rio é grotesco e merece revisão. Mas não é único. O efeito cascata da decisão a partir do voto favorável ao presidente afastado do PSDB já produziu efeitos maléficos em outros Estados que, menos importantes e menos acintosos do que o caso do Rio parece que estão passando em branco. Talvez coubesse ao Supremo explicar melhor ou, quem sabe, corrigir a própria lambança. Sua imagem está na chón, como dizia a personagem de Aracy Balabanian Armênia naquela novela da Globo. Talvez não no pré-sal da opinião pública, como a da Alerj, mas chegando perto dela. Será bom esperar para ver o que vai acontecer de verdade, como se comportarão os advogados de defesa de políticos suspeitos no plenário da casa com seus numerosos e eternos pedidos de vista e concessões de habeas corpus.

Por falar em Supremo, manchete do Estadão de hoje diz que ele deve limitar alcance de foro privilegiado de políticos. Não será o caso de questionar se os políticos sujspeitos vão deixar valer a decisão?

Em julgamento  previsto para ser retomado depois de amanhã, o Supremo deverá formar maioria pela restrição à abrangência do foro privilegiado. Quando o julgamento foi suspenso havia quatro votos a favor da restrição. Forma-se maioria quando são atingidos seis votos. A tendência no STF é que prevaleça o entendimento do ministro Luis Roberto Barroso de que políticos só devem ter direito a uma corte especial se o crime do qual forem acusados tiver sido cometido no exercício do mandato e for relacionado ao cargo que ocupam, Até agora acompanharam a posição de Barroso os ministros Marco Aurélio Mello, Rosa Weber e Cármen Lúcia. Nos bastidores sinalizaram que concordam com uma restrição ao foro Luís Fux e Edson Fachin. Celso de Mello também é crítico ao abuso da prerrogativa. Mas existe a perspectiva de que a votação seja prorrogada novamente por um pedido de vista de Dias Toffolli, que ontem não quis falar sobre o assunto.

O certo é que é um absurdo de 22 mil a 555 mil otoridades basileiras gozarem do privilégio de foro, sem que se saiba sequer o número certo. E por qualquer motivo. Quando os constituintes fixaram o foro privilegiado, a intenção foi proteger os mandatários do povo de perseguições políticas, garantindo-lhes o direito de palavra e de opinião. Estender esse privilégio para crimes comuns, como roubo e até assassinato é um absurdo. O absurdo acontece porque os políticos são ousados e contam com a cumplicidade dos juízes. No caso dos senadores, nunca devemos nos esquecer de que são eles que sabatinam os candidatos a Supremo. E já ficou claro inclusive que recorrem a expedientes bem pouco republicanos para tanto. À época da delação absurda da JBS, por exemplo, a fofoca mais recorrente nos corredores do Congresso era a do passeio do relator da Lava Jato, Edson Fachin, com o delator e ex-diretor da emresa Ricardo Saud pedindo apoio dos senadores. Isso, aliás, nunca veio a público nem foi devidamente esclarecido pelos personagens. Não estava na hora de fazê-lo:

O senador Renan Calheiros teve suspensos os direitos políticos por um juiz e terá de pagar uma multa de R$ 246 mil.  O alagoano foi condenado por improbidade administrativa em caso envolvendo supostas vantagens indevidas da construtora Mendes Júnior, acusada de bancar despesas pessoais da jornalista Monica Velloso com quem o senador mantinha relacionamento extraconjugal. Isso vai dar em alguma coisa concreta ou cairá na vala comum do foro?

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O  juiz federal Waldemar Carvalho, da 14ª Vara Federal, condenou o senador Renan Calheiros (PMDB-AL), à perda de mandato e perda dos direitos políticos por 8 anos, por improbidade administrativa. A sentença foi tornada pública nesta segunda-feira, 20. O peemedebista, Cláudio Gontijo Teixeira e a empresa Mendes Júnior, também foram sentenciados a pagar multa de R$ 246 mil.

O processo na área civil envolve o caso em que o senador foi acusado de receber propinas da construtora Mendes Júnior, que pagaria as despesas pessoais da jornalista Mônica Veloso com quem mantinha relacionamento extraconjugal. Em 2007, quando foi revelado, o peemedebista renunciou à presidência do Senado em uma manobra para não perder o mandato.

O povo está cansado de manobras desse tipo e da impunidade total dos mandatários. Está na hora de puxar o freio de mão nesse sentido. A única coisa que cada cidadão pode e deve fazer é não reeleger nenhum deles em 2018. Não se trata de votar em branco ou nulo, mas, sim, dar voto válido para candidatos que não ocupam nenhum mandato nos Poderes Executivo e Legislativo. Fazer o que o taxista Rinaldo da Silva propôs e eu endosso.

SONORA O cordão dos puxa-saco Os anjos do inferno

 

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