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Direto ao assunto

Jean e James

Carlos escreveu romance sobre seu caso com Jean, que era amante de James, o invisível

Por José Neumanne
Atualização:

Um começo inesquecível de livro: "um homem invisível" como Ralph Ellison Foto: Estadão

Carlos Fuentes, mexicano que escreveu a obra-prima Aura Foto: Estadão

Sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017, na hora da noa

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A semana termina com doces lembranças, luto e maus presságios. Vem aí o documentário Eu não sou seu negro e, além do belíssimo título, o filme me trouxe à memória velhas leituras de James Baldwin, de repente ressuscitado numa excepcional fotografia na capa do Caderno 2 de ontem. Uma prosa vigorosa, sem deslizes, como seu comportamento ético. Essa boa lembrança me levou a outra: Diana, a caçadora solitária, belo romance de Carlos Fuentes em que ele narrou seu romance clandestino com a estrela de Hollywood Jean Seberg, protagonista de À Bout de Souffle, que em Campina Grande, na Praça do Lions, apelidamos de Bafo numa peinha de nada - o clássico de Godard com ela e Belmondo, o galã feio. Seberg era casada com Romain Gary e amante de Baldwin. Foi vítima de calúnia do FBI, que a "acusou" de ter engravidado de um "pantera negra", grupo de negros radicais que ela apoiava explicitamente. Há quem suspeite de que seu suicídio (em 1979, parou o carro numa rua em Paris e tomou barbitúricos até morrer) fora, na verdade, um assassinato executado por espiões ianques ainda na guerra fria. Recordação boa de ter também trouxe a morte de Tibério Gaspar, parceiro de Antônio Adolfo em tantas belas canções, principalmente Sá Marina, numa interpretação de Simonal de fazer chorar (alô Max e Simoninha, aquele abraço!). Luto por Tibério, Simonal, Imperial, Tim Maia e toda aquela geração genial que me acolheu no Rio de Janeiro que eles encantavam quando por lá cheguei em 1969, mas não existe mais. A Operação Leviatã, que mostrou a propina passando de pai pra filho no clã Lobão, transportou-me aos ano 70, quando escrevia na Revista de Cultura Vozes, dirigida então por Frei Clarêncio Neotti e Frei Sinval de Itacaramby Leão, sobre uma de minhas obsessões intelectuais de então: o embate imaginário entre os ascetas Thomas Hobbes e John Locke. Não deixa de pintar uma saudadezinha insinuante. Presságios malvados são o Edison Cara de Facínora Lobão na presidência da CCJ do Senado, Rodrigo Bolinha Botafogo Maia dando uma de surdo às ordens da Justiça na presidência da Câmara e doutor Temer abusando da licença para errar, mantendo o professor Quadrilha e dando carne a seu felino angorá. Quanto fantasma me assombra neste momento, enquanto, felizmente, os fantasminhas camaradas me sorriem e me fazem sorrir, sorrateiro.

*Jornalista, poeta e escritor

 

Jean Seberg, em À bout de souffle (O acossado), de 1960,, de Jean-Luc Godard Foto: Estadão

Diana ou a caçadora solitária, de Carlos Fuentes Foto: Estadão

 

Para ouvir meu comentário no Estadão no Ar clique aqui e, depois, no play da Estação Nêumanne

Para ouvir Sá Marina com Wilson Simonal clique aqui

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Começos inesquecíveis, Sérgio Rodrigues

O homem invisível, Ralph Ellison

Sou um homem invisível. Não, não sou um fantasma como os que assombravam Edgar Allan Poe; nem um desses ectoplasmas de filme de Hollywood. Sou um homem de substância, de carne e osso, fibras e líquidos - talvez se possa até dizer que possuo uma mente. Sou invisível, compreendam, simplesmente porque as pessoas se recusam a me ver. Tal como essas cabeças sem corpo que às vezes são exibidas nos mafuás de circo, estou, por assim dizer, cercado de espelhos de vidro duro e deformante. Quem se aproxima de mim vê apenas o que me cerca, a si mesmo, ou os inventos de sua própria imaginação - na verdade, tudo e qualquer coisa, menos eu.

 

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