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Direto ao assunto

Enxofre na Guanabara

Para Garotinho, delação de Cabral será o quinto dos infernos e vai empestear o Rio

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Por José Neumanne
Atualização:

Cabral, Rosinha e Garotinho, quem diria, juntos Foto: Estadão

Houve um tempo em que o Rio de Janeiro, mercê da marcha famosa de André Filho, era conhecido como "cidade maravilhosa". Hoje outra canção de sucesso, de Gilberto Gil, também é profética ao decretar que a antiga capital do País "continua sendo". No Rio, modas são criadas e adotadas e, depois, se transmitem ao resto do País. E foi assim que a capital do samba e da bossa nova virou também o exemplo mais descarado da corrupção desregrada que assola o País desde que a aliança entre PT, PMDB e partidos menos importantes tomou o poder na República insana.

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Os métodos adotados pelo ex-governador Sérgio Cabral para cobrar e receber propinas de empreiteiros amigos que depois viraram desafetos, como Fernando Cavendish, da Delta, vieram acompanhados de histórias de amor, desamor, desejo, ciúmes e traição. Seu caso com uma parente do empresário tornou-se público depois da queda do helicóptero que a transportava para uma festa na Bahia, para a qual ele iria em outro. A descoberta e a insistência dele em não aceitar a imposição pela mulher, Adriana Ancelmo, do ex-marido para chefiar a Casa Civil resultaram numa separação do casal, que logo em seguida voltou a conviver como se nada tivesse acontecido. Esse vaivém de alianças também ocorreu na política, pois ele e seu amigão do peito Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa do Estado e cúmplice em várias falcatruas e tramoias, apoiaram o adversário tucano do PT na eleição presidencial de 2014.

Aécio Neves e Aloysio Nunes Ferreira perderam a eleição para Dilma e Temer, mas a delação dos 77 da Odebrecht deixou claro que a dita oposição também sujou as mãos na porcaria da roubalheira geral brasileira. E nesta semana os netos de Tancredo Neves, o conciliador-mor do século 20 na política brasileira, tanto Aécio quanto a irmã Andrea, foram citados nas famigeradas delações premiadas dos 77 da Odebrecht. Na semana em que Aécio é capa de Veja, os jornais anunciam a marcha para a delação premiada do próprio Cabral. Para temor generalizado dos três poderes no Estado que ele governou e na Federação.

Por enquanto, o mundo já desabou sobre o Executivo, que ele chefiou, e o Legislativo. A Operação O Quinto do Ouro, da Polícia Federal, prendeu cinco, mantendo quatro presos em Bangu e o presidente em exercício usando tornozeleiras no lar amargo lar, dos sete conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. Dos dois restantes, um - Jonas Lopes Filho - delatou os outros. E uma restou sendo a única representante sem explicações a dar à polícia e à Justiça. O TCE do Rio inaugurou uma nova dúvida nacional: e os outros TCEs do País? Como terão se comportado os conselheiros estaduais, municipais e o federal? O chefão do TCE, que não é órgão do Judiciário, mas assessor da Alerj, deputado estadual Jorge Picciani, presidente da Casa, foi também conduzido coercitivamente para se explicar na Polícia Federal. E na bagunça geral brasileira voltou do depoimento para discursar na tribuna de representante do povo.

As respostas estão sendo dadas nas reuniões do ex com os procuradores do Ministério Público Federal para negociar uma prisão mais leve, como, por exemplo, a da mulher, Adriana Ancelmo, agraciada com uma decisão leniente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em nome de sua condição maternal.

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Anthony Garotinho, que recentemente protagonizou cenas de esperneio explícito ao ser preso acusado de fraude eleitoral, tem acompanhado de forma diligente as aventuras do político que o lançou em cena na política fluminense, em seu blog sempre muito bem informado.

Segundo Garotinho, agora desafeto, comenta-se no Rio que esta não é a única delação premiada temida por juízes, parlamentares, pois fala-se muito em outro ex-assessor da intimidade do ex-governador, que, segundo consta, foi escolhido exatamente para o lugar que a sra. Ancelmo desejava para o ex-marido.

Garotinho, cujo blog publicou as célebres fotos da turma do Guanabara dançando o cancã num restaurante em Paris, deu um furo espetacular, ao revelar que "Cabral desconfiava já há algum tempo que a não inclusão do nome de Regis Fichtner em qualquer operação ou investigação cheirava a proteção. Ou seja, o homem que o acompanha desde os tempos de deputado estadual, foi seu suplente de senador e seu chefe da Casa Civil, estaria entregando informações do grupo do qual fazia parte em troca de não ser investigado. No início da semana passada Sérgio Cabral teve certeza disso, e quem lhe contou foi um dos enviados, que foi especialmente a Bangu para detalhar o acordo de proteção a Regis Fichtner. Segundo o aliado que virou desafeto, Cabral foi "tomado de ira" e, entrepalavras e expressões de baixo calão, referiu-se a Regis Fichtner como"traíra", prometendo ao tal interlocutor que vai delatar "todo o esquema dele e da família com a Justiça do Rio".

Segundo Garotinho, há vários capítulos dedicados a juízes, mas a delação também envolve "sua relação com Jorge Picciani, Pezão, Eduardo Paes e outros nomes do PMDB". Teria, segundo seu informante, sobrado até para o emissário petista que recebia parte das propinas de verbas federais enviadas para obras no Rio. "Aliás, isso está anotado em uma das cadernetas apreendidas pelo Ministério Público Federal", jura o outro ex-governador. E Garotinho não deixa por menos ao anotar que "a operação no Tribunal de Contas do Estado foi denominada O Quinto do Ouro. A delação de Cabral, se for homologada, está sendo chamada de O quinto dos infernos, porque vai encerrar a carreira de muita gente prematuramente, gente grande, poderosa, que segundo Cabral está num lago de enxofre".

De qualquer maneira, a soma das delações de Sérgio Cabral e do infiel Fichtner vai produzir muita dor de cabeça às margens da Guanabara, que encantou Cole Porter antes de se tornar a baía da imundície que fez mal a iatistas disputando a Olimpíada de 2016. Ou bem longe delas a seus asseclas espalhados pelo resto do Brasil. Certamente, muita gente importante da República gostaria de pagar para não ver no pôquer da impunidade, cada vez mais desejado e distante, sua carta jogada na baía do diabo.

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  • Jornalista, poeta e escritor