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Direto ao assunto

Bpb Dylan, BNDES e Oi na mesma parada dura

A Justiça e o Congresso tornarão inúteis explicações toscas do presidente do BNDES sobre propinas no banco e ex-executivo da Oi promete mais uma delação bomba sobre supertele

Por José Neumanne
Atualização:

 

Sabe aquela canção de Bob Dylan que o colocou nas paradas como ídolo no topo da roda-gigante do mercado musical e o consagrou como ícone da cultura pop, Blowin' in the wind? Se não sabe, lembre-se que o petista Eduardo Suplicy adorava cantá-la no microfone da tribuna do Senado. E os ventos, ao que tudo indica, estão mudando mesmo. Seu refrão irresistível é: "A resposta, meu amigo, está soprando no vento". E também mudam os tempos, como revela outro clássico de Dylan em canção de protesto, The times they are a-changing.

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Algum bom amigo, desses que não se acham normalmente em subordinados, mas podem florescer em parceiros de verdade, poderia avisar ao presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, que seu enorme esforço de originalidade, cinismo e interpretação na entrevista que deu a respeito do relatório dos auditores dos escritórios de advogados Cleary Gottlieb Steen & Hamilton LLP (americano) e Levy &. Salomão Advogados (seus associados brasileiros) não enganou ninguém, nem o mais tolo dos interlocutores.

Em nenhuma resposta foi justificado o fato de a auditoria contratada por Paulo Rabello de Castro no governo Temer ter seguido a um custo muito maior nas gestões de Joaquim Levy e do próprio "yuppie da Tijuca" sob nova direção. Seja qual for o custo - R$ 70 milhões, como dizem alguns incrédulos do mercado, R$ 48 milhões, conforme foi divulgado anteriormente pelo próprio banco público, ou R$ 42,7 milhões, valor, enfim, informado pelo atual presidente -, ele é absurdo. Com propinas citadas nas delações de Antônio Palocci, vasculhadas na comissão parlamentar de inquérito (CPI) da Câmara dos Deputados, graças, sobretudo, aos esforços da vice-presidente Paula Belmonte (CID-DF), não havia por que omitir os resultados até agora alcançados por esses instrumentos de investigação e ficar na dependência exclusiva de um escritório de advocacia que nunca, em momento algum, poderia alegar a necessária imparcialidade para produzir o que dela a Nação (e o próprio presidente Jair Bolsonaro) esperava. Cleary Gottlieb advogou para a Petrobrás, que fez acordo com os acionistas americanos, aos quais pagou US$ 3 bilhões (R$ 12 bilhões em valores atualizados) para desistirem das ações movidas contra a petroleira. A Odebrecht, que está dando um calote de R$ 4,7 bilhões no banco presidido pelo jovem operador de mercado, também foi cliente do mesmo escritório. Faltou Montezano explicar por quê. Será que encontrar podres na contabilidade do BNDES será semelhante a topar com água no Mar da Tranquilidade, na Lua?

Paulo Rabello de Castro, Joaquim Levy e Gustavo Montezano também deveriam saber que foi por isso que essas empresas não acharam irregularidades no BNDES. Primeiro, seu relatório, ainda escondido do contribuinte, que paga o salário dos dois ilustres economistas e do boy do clã Bolsonaro e de Paulo Guedes, reconhece que não teve acesso a toda a documentação sobre a relação dos marchantes Batista de Anápolis com a mais generosa instituição bancária de que há notícia ter existido cá entre nós. Juan Giráldez, um dos sócios do escritório, testemunhou a favor de Lula no processo da cobertura no Guarujá. Uma audiência com o ministro da Justiça, Sergio Moro, explicaria por que este determinou que Cleary Gottlieb pagasse a tradução do depoimento favorável do gringo. Por que não foi pedida? Na verdade, o trio citado liderou uma operação abafa.

Mas a CPI do BNDES, a Justiça e Palocci já fizeram o serviço pelo qual a empresa Cleary foi contratada, e não o fez. O clã Bolsonaro e o dr. Paulo Guedes não estão cobrando do "yuppie da Tijuca" que assuma as consequências? Afinal, seus dois antecessores já pularam fora do barco.

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E com os ventos que mudam vêm mais boas notícias, prenunciando bom tempo. No final de 2019 Paulo Guedes baixou uma norma que acabou com as eleições para o comando dos fundos de pensão Previ, do Banco do Brasil, Funcef, da Caixa Econômica Federal, e Petros, da Petrobrás. O objetivo é pôr fim a indicações políticas no comando das fundações, que eram o último reduto do PT, um bunker de onde vinha parte dos recursos para o financiamento ilegal de campanhas políticas. A ideia é que os Pizzolatos, os Sergios Rosas, os  Wagners Pinheiros não venham a existir mais. Até que enfim, a influência do PT nessas fundações vai acabar. Nesta semana o Banco do Brasil nomeou um novo diretor para o Previ, profissional experiente sem ligações partidárias. É assim que deve ser. A ordem do Bolsonaro e do Paulo Guedes é faxinar.

E olha que vem bomba aí. Lula e o BNDES são alvo de novas delações premiadas. A abertura da caixa-preta do BNDES não perde por esperar. Sem o yuppie e o contrato milionário de mais de R$ 42 milhões, da Cleary Gottlieb, a caixa-preta já aberta pela Justiça será escancarada por novas delações premiadas. Já comentei neste blog sobre as omissões premiadas que começam  aparecer. Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, omitiu de sua delação premiada as irregularidades envolvendo o filho de Lula. O executivo nada mencionou sobre a compra do sítio em Atibaia. Essas omissões levam a força-tarefa do Ministério Público a rever a delação premiada do desmemoriado. Por isso ele foi alvo de três mandados de busca e apreensão na Operação Mapa da Mina, 69.ª fase da Lava Jato, deflagrada em dezembro de 2019, que  apura repasses milionários da Oi para a Gamecorp, do Lulinha. Enquanto isso, as omissões premiados estão sendo reveladas em outra seara, a das maracutaias telefônicas.

Otávio Azevedo, por exemplo, terá sua delação premiada revisada por haver omitido o pagamento da Telemar, da Andrade Gutiérrez, para Fábio Luiz Lula da Silva, o prodigioso Lulinha, e sua empresa Gamecorp.

A força-tarefa ligou Azevedo, à frente da Oi, aos repasses de R$ 132 milhões à empresa do filho de Lula e concluiu que parte de tais recursos pode ter sido usada na compra do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia. E mais: nova delação - vamos dizer, a delação das delações, a bala de prata no Lula - está a caminho e vai deixar Lula, Lulinha, Gamecorp, supertele e seus maestros e cúmplices mais enrolados ainda na Justiça. É que Marco Schroeder, ex-executivo da Oi, fechou acordo de delação premiada. Ele foi executivo da Oi de 2002 a 2017, ocupou  vários postos de comando na telefônica, da Contax, empresa controlada pela  Andrade  Gutierrez, e foi conselheiro da Gamecorp, do "gênio" Lulinha, indicado por  Azevedo. Schroeder participou de todos os principais eventos da história da Oi.

A recompensa da Oi pela assessoria do ex-catador de fezes no Simba Safári, a criação da supertele, que não sairia sem mudança na legislação, uma lei de pai para filho, foi permitida e assinada pelo próprio presidente (chamo-a de Lei Telesoca, lembrando a Lei Teresoca, com que Getúlio Vargas presenteou Chatô para permitir que exercesse o pátrio poder sobre a filha Teresa Acuña). E Lula não vai ter como dizer que não sabia.

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Pois a supertele remunerava a empresa do Lulinha com uma verba corporativa contabilizada como assessoria jurídica. Com esse notório saber jurídico, Lula deve estar arrependido  de não ter indicado seu filho  para o Supremo Tribunal Federal. E vai sobrar para a Dilma também, pois ela era a ministra todo-poderosa que cuidava da criação da tal da supertele.

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Schroeder, como  diretor da Contax, havia sido  citado na Lava Jato e foi alvo de busca e apreensão na Operação Mapa da Mina. Ele fechou um acordo de delação premiada e está delatando a supertele. Vai envolver Lula, Dilma, Lulinha, sítio em  Atibaia e Previ, que estava  na moita, bem escondidinha. É, minha gente, só a verdade nos salvará.

E não vai ficar nisso, não, viu? Nessa tarefa de fuçar o lixo enterrado, advogados também estão na mira da Polícia Federal e do Ministério Público (MP). Causídico a serviços de famosos como Delcídio Amaral e Palocci, especializado em delações, ou, melhor dizendo, em omissões premiadas, Figueiredo Basto foi denunciado pelo MP por enviar dinheiro ilegalmente para fora do País. Agora, o doutor é investigado pela acusação de receber mesada de US$ 50 mil (R$ 200 mil) por mês para proteger Dario Messer, doleiro dos doleiros, das autoridades.

Como é apropriado recordar nesta temporada de chuvas de véspera de carnaval, as águas vão rolar...

*Jornalista, poeta e escritor

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