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Até sempre, Mimi

Na véspera do Dia do Trabalho, uma récita à altura no Theatro Municipal: La Bohème, de Giacomo Pucini

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Por José Neumanne
Atualização:

 

No Municipal sábado 30, com Bel Foto: Estadão

Domingo 1º de maio de 2015

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La Bohème, de Giacomo Puccini, no palco do pomposo, mas aconchegante, rebuscado, mas confortável Theatro Municipal de São Paulo na véspera do Dia do Trabalho, com maio chegando. Tenho motivos para achar maio o mais bonito dos meses aqui, mas é melhor não contar por quê. Nada mais propício. Excelente música, encenação bonita no melhor palco da maior e mais trabalhadora cidade da América do Sul, cenário da Semana de Arte Moderna de 1922, que completará um século daqui a pouco, em seis anos. Noite fria de sábado, depois de torrar a moleira no outono mais quente desde que se começou a medir diariamente a temperatura, lá pelos anos 1940, antes de Isabel e eu termos nascido, portanto.Magnífica ocasião de apresentá-la ao bel canto e ao solene e soberbo edifício de Ramos de Azevedo. Grande noite! Eu já tinha visto uma encenação do mesmo espetáculo no palco dos palcos da ópera mundial: o Scala, de Milão. Não dá pra reclamar de uma ópera na Lombardia de Verdi, mas acho que a encenação adaptada ao cenário contemporâneo meio que forçou a barra para esclarecer que aquele foi o primeiro libreto a ter protagonistas que não eram ricos, nobres ou moradores do Olimpo ou dos céus de magenta. A opção certa foi a clássica montada em Sampa, acho eu. Mas este é assunto pra pedir auxílio ao universitário que entende tudo do gênero, JB Natali Jr., duas vezes colega do casal, professor como Isabel e jornalista como eu. Os figurinos, o cenário e a iluminação ajudaram mais a marcar o pioneirismo da mudança da cena aristocrática ou mítica para a vida proletária do que a modernização do entrecho. Isso, contudo, não é importante. Mais importa saber que ver de novo, na companhia de uma mulher linda, fascinada e fascinante, foi uma opção pra nunca mais esquecer. Na plateia, Airton Soares lembrou quando saiu do PT pelo pecado de achar Tancredo diferente de Maluf, o que era óbvio pra todo mundo menos pra Lula, que o expulsou do partido só porque ele não era cego, assim como os outros dois parceiros de boa visão, Bete Mendes e Zé Eudes. O passado da vida nas mansardas da intelligentsia pobre na Paris do fim do século 19 combinou com o passado que explica a natureza stalinista do partido que deixou de ser dos trabalhadores e merece hoje se dizer pertença de empreiteiros acusados de roubar o povo. O duplamente conselheiro Roquinho Citadini, do Tribunal de Contas do Estado e do Corinthians, também presente, lembrou, comovido, que Puccini foi pioneiro das trilhas sonoras de Hollywood, pois sua orquestração operística foi emulada pelos Henry Mancinis e Dimitri Tiomkins da vida. Melhor terminar com esta observação do que insistir na óbvia vertente autoritária dos ocupantes do poder na República, até porque já são quase ex, não é mesmo? Cai o pano neste texto. Até sempre, Mimi.