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Direto ao assunto

À espera de Duque

No dia 5 saberemos se Duque contará mesmo tudo o que sabe sobre Lula e Palocci

Por José Neumanne
Atualização:

Duque sabe demais para ficar tanto tempo preso Foto: Reprodução

Em depoimento à Lava-Jato, três delatores da Odebrecht atribuíram ao petista Antônio Palocci a definição do percentual de 1% de propina nos contratos da Sete Brasil. Em vídeo, Rogério Araújo, ex-funcionário da empreiteira, disse ter ouvido do delator premiado Pedro Barusco que o ex-presidente Lula teria participado da decisão sobre a divisão de percentual de propina, o que pode vir a ser objeto do depoimento de Renato Duque a Sérgio Moro marcado para sexta-feira que vem, 5 de maio. Diz-se que o juiz aceitou adiar o depoimento de Lula, porque queria ouvir o ex-diretor da Petrobrás antes. Mas isso só será esclarecido em três dias. Estou em pulgas esperando o que ele tem a dizer, é esperar.

(Comentário no Jornal Eldorado da Rádio Eldorado, FM 107,3 - na terça-feira 2 de maio de 2017, às 7h30m).

Para ouvir clique aqui e, em seguida no play

Para ouvir Polo Margariteño, Com Soledad Bravo, clique aqui 

Abaixo a íntegra da degravação do comentário:

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Eldorado 2 de maio de 2017 terça-feira

SONORA 0205 VENEZUELA

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SONORA Polo Margariteño Soledad Bravo

https://www.youtube.com/watch?v=tNQsq5aVBmM

Indicado pelo PT ao cargo, o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque decidiu quebrar o silêncio e confirmar, na próxima sexta-feira, em depoimento ao juiz da 13ª Vara da Justiça Federal em Curitiba, Sergio Moro, ter participado da negociação de percentual entre 0,9% e 1% de propina ao partido nos contratos da Sete Brasil com o Estaleiro Enseada do Paraguaçu, do qual fazia parte a Odebrecht. O que se pode esperar das primeiras revelações de um petista importante como este?

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Há uma expectativa muito grande em torno do que Duque tem a falar. Lembro-me de uma entrevista do professor Ildo Sauer, que foi braço direito de Lula em matéria de gás e diretor do derivado na Petrobrás, primeiro à revista da USP e, depois, ao Estadão, de que nos governos do PT a estatal teria sido realmente ocupada por ladrões, mas dois diretores mantiveram seus compromissos com o ideário socialista e à condição de propriedade do povo da então maior empresa do Brasil. Foram ele próprio e Duque. O mito caiu por terra graças às delações premiadas de seus próprios subordinados e agora é tido como uma testemunha-chave que pode levar a figurões como Palocci e até Lula se realmente decidir contar o que sabe.

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Preso desde março de 2015 e condenado em quatro ações a penas que somam 57 anos e sete meses de prisão, Duque ficou calado em depoimentos à Justiça e optou por mudar de estratégia depois de fracassadas tentativas de celebrar um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF). Seu advogado é Antonio Figueiredo Basto, o mesmo que cuidou da delação do doleiro Alberto Youssef. A Sete Brasil é uma empresa constituída pela Petrobras, fundos de pensão e bancos privados para cuidar dos contratos do pré-sal.

O negócio é fabuloso. De acordo com o MPF, seis contratos de afretamento de sondas negociadas pela Sete Brasil com o Enseada do Paraguaçu somaram R$ 28 bilhões. Eles teriam sido obtidos por influência de Antonio Palocci, também denunciado no processo, que nega a acusação.

O pagamento de propina entre 0,9% e 1% dos contratos para o PT foi revelado pelo ex-gerente da companhia Pedro Barusco, que mencionou o ex-tesoureiro do PT João Vaccari como o responsável por recolher valores para o partido. Segundo Barusco, um terço deveria ser divido entre funcionários da estatal e dois terços entregues a Vaccari.

Em depoimento à Lava-Jato, três delatores da Odebrecht atribuíram a Palocci a definição do percentual de 1% de propina nos contratos da Sete Brasil. Segundo eles, no entanto, os valores não teriam sido pagos como solicitado -- a empreiteira preferia manter uma "conta corrente" com valores à disposição do partido, em vez de negociar cada contrato.

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Em vídeo, Rogério Araújo, ex-funcionário da empreiteira, disse ter ouvido de Barusco que o ex-presidente Lula teria participado da decisão sobre a divisão de percentual de propina, o que também pode ser objeto do depoimento de Duque. A defesa de Lula "nega veementemente" envolvimento dele no esquema.

Diz-se que Moro decidiu adiar o depoimento de Lula, porque queria ouvir antes Duque. Mas isso só será esclarecido mesmo sexta-feira dia 5. Estou em pulgas esperando o que ele tem a dizer, mas vamos esperar.O Estadão revelou que Eike Batista pagou uma dívida de 5 milhões de reaisda campanha de 2012 de Fernando Haddad (PT) à Prefeitura de São Paulo, conforme disse Mônica Moura em depoimento ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ela contou que coube ao então tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, resolver o impasse do pagamento. Será que o ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, não se teria precipitado a mandar soltar o biliardário?

Mônica disse que "sempre tinha uma dívida que rolava. Isso era absolutamente natural, absolutamente normal. Tinha vezes que a gente fazia tantas campanhas que as dívidas se misturavam". Ela é uma das testemunhas ouvidas pela Justiça Eleitoral na ação que apura se a chapa de Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (PMDB) cometeu abuso de poder político e econômico para se reeleger em 2014.

Durante o depoimento, a empresária foi questionada sobre depósitos feitos em uma conta na Suíça mantida por João Santana, seu marido.

"Às vezes o próprio PT não sabia mais o que estava pagando. Se era 2010, se era 2012, se era Patrus (Patrus Ananias, hoje deputado federal), se era Haddad, era uma confusão de dívidas e essa dívida também ficou para o ano seguinte, só que essa em 2013 já também o Vaccari me chama e resolve através do Eike", contou a delatora.

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O pagamento no exterior teria sido acertado diretamente com o executivo Flávio Godinho, homem de confiança de Eike. Fez-se então um contrato de trabalho de três páginas, "bem simplesinho", segundo Mônica.

Quanto ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral, fica claro que, se se dispõe a garantir o direito permanente à defesa de todos os implicados nesse caso sujo, ele vai ter um trabalho danado desta semana em diante.

Mudando de assunto, o Estadão também publicou que o governo federal começa hoje a demitir indicados de deputados da base aliada que votaram contra a reforma trabalhista na Câmara. Será que, com isso, Temer conseguirá reverter a derrota na reforma da Previdência?

Em reunião realizada ontem com ministros e líderes, no Palácio da Alvorada, o presidente Michel Temer disse que quem está com o governo tem bônus, mas também ônus e avisou que será preciso dar o exemplo, com cortes de cargos, para impedir que novas traições prejudiquem a votação da reforma da Previdência. As mudanças na aposentadoria começam a ser analisadas amanhã por uma comissão especial da Câmara. A expectativa do Palácio do Planalto é de que até julho a proposta tenha passado pelo plenário da Câmara e do Senado, mas esse calendário deve atrasar porque a base aliada está rachada e há muitas resistências à proposta.

Segundo apurou o Estado, as demissões que sairão no Diário Oficial a partir de hoje atingirão cargos em órgãos federais nos Estados. Entre os atingidos estão deputados do PR, PP, PSB e até do PMDB, partido de Temer. Os cargos maiores, como ministérios e presidências de fundações, só serão retirados se houver infidelidade na votação da reforma da Previdência. Trata-se de uma prática, A prática não é nada republicana, mas é a realidade do jogo político na presidência de coalizão. Além do mais, seus efeitos práticos na mudança da perspectiva de mudança da direção dos ventos são bastante duvidosos. Se for verdadeira a proporção dada pelo Datafolha de que 7 em cada 10 brasileiros rejeitam as propostas de Temer, a demissão dos infiéis podem se tornar uma espécie de tarefa de Sísifo, mas também nesse caso vamos esperar pra ver. E pagar, é claro, nós sempre pagamos a conta, seja da vitória, seja do fracasso...

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Terrível essa notícia dada pelo governo do Maranhão de que os conflitos ocorridos ontem em Viana resultaram em sete índios vítimas da violência de posseiros, e não 13, conforme informado pelo Conselho Indigenista Missionário. Isso muda em alguma coisa as conseqüências funestas em mais essa guerra pela posse de terra no interior?

Segundo o governo estadual, das sete pessoas feridas no ataque de pistoleiros, cinco são índios gamela e dois, não indígenas. O governo maranhense declarou ainda que não houve indígenas com as mãos decepadas, como foi divulgado. De acordo com o governo, o que ocorreu é que "um dos gamelas teve fratura exposta nas mãos". A vítima foi operada e continua internada. Dos sete feridos, três permanecem internados.

O governador Flávio Dino (PCdoB) declarou que, assim que foi informado sobre a "lamentável violência ocorrida no povoado Bahias", a Polícia Militar do Maranhão "atuou imediatamente" após ter conhecimento do "conflito entre moradores da região e um grupo que reivindica reconhecimento como povo Gamela, evitando assim uma tragédia maior".

Ao 'Estado', Flávio Dino disse que enviou novo ofício ao Ministério da Justiça para dar uma definição sobre as terras. "O que aconteceu ontem foi grave. Uma pessoa foi muito agredida com pauladas e teve fratura exposta. Neste momento ela não corre risco de morte", disse o governador. "A essência do conflito está na indefinição da Funai e do Ministério da Justiça, que não definem o que é território indígena ou o que não é. O conflito fica latente e qualquer fagulha causa explosão", disse Dino.

No Brasil, a burocracia da máquina estatal é uma máquina de produzir tragédias, principalmente nos rincões mais distantes e abandonados do território nacional.

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Para encerrar, gostaria de ter um comentário seu sobre a crise num país vizinho, a Venezuela. Em que pode terminar essa crise?

Após um mês de manifestações contra seu governo, o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, decidiu agora convocar uma Constituinte "popular" para alterar a Carta fundamental do país. No discurso em que anunciou a medida, o líder chavista afirmou que um dos objetivos é "reformar essa Assembleia Nacional podre que aí está", referindo-se ao órgão máximo do Legislativo, dominado pela oposição desde janeiro do ano passado. Trata-se da conclusão do golpe anunciado;

O professor da USP Rafael Villa, que é venezuelano e especialista em América Latina, faz um balanço do caso.

SONORA 0205 VENEZUELA

A composição da Assembleia Nacional Constituinte anunciada pelo presidente seria amplamente favorável ao chavismo. Segundo Maduro, o grupo terá 500 integrantes "eleitos diretamente pelo povo". A escolha "direta", no entanto, inclui uma reserva de 250 vagas para deputados constituintes escolhidos por órgãos do Poder Popular - os Conselhos Comunais, comandados por forças chavistas.

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O efeito imediato da manobra é bloquear qualquer possibilidade de que se convoquem eleições no país. Uma das exigências da oposição é a realização da votação para escolha de governadores - originalmente prevista para o ano passado, mas adiada sem prazo específico pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). Desse tipo de golpe a esquerda brasileira não reclama, numa demonstração de sua burrice teimosa, mentirosa e insensível às mais verdadeiras e violentas violações das liberdades democráticas. Vergonha lá e vergonha aqui.

Em preito de dor e saudade pelo que ocorre na Venezuela peço ao comandante Nelson que toque Soledad Bravo interpretando a bela canção foclórica daquele país, Polo margariteño. Seu canto acorrentado é canto de agonia, por que te empenhas tanto em prolongar seu canto, Senhor?

https://www.youtube.com/watch?v=tNQsq5aVBmM

 

 

 

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