Quem tem medo de Gisele Bündchen?

Entre meio tardiamente no assunto, mas não dá para evitá-lo. É que a ministra da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Iriny Lopes, não deixa o caso morrer: ela quer porque quer tirar do ar as peças de propaganda em que a modelo Gisele Bündchen aparece de lingerie para dar ao companheiro "más notícias", de modo a amaciá-lo. Para Iriny, trata-se de "conteúdo discriminatório contra a mulher". No site da secretaria foram colocados nesta quinta-feira dois artigos (aqui e aqui) que reforçam a campanha da ministra. Um deles diz que Gisele representa "uma mulher infantilizada e dependente" que deve tratar de assuntos graves ficando "de calcinha e sutiã".

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Assisti diversas vezes os tais anúncios (aqui, aqui e aqui), para tentar entender onde estava o problema. Confesso que não encontrei o "sexismo" ou a "discriminação" que a ministra acusa. Também não vi Gisele "infantilizada e dependente" - pelo contrário, e a graça é exatamente essa: a modelo, freqüentadora das listas de mulheres mais poderosas do mundo, apenas finge ser infantil para exercer seu domínio. Se eu fosse mulher, acharia graça só de imaginar a cara do sujeito com quem a exuberante Gisele, em trajes mínimos, entabula conversação para lhe dar uma "má notícia".

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Já que as críticas ao anúncio não levam em conta o humor, tentemos a antropologia. É fato que mulheres não são somente seu corpo, mas também é fato de que mulheres têm, em seu arsenal social, a capacidade da sedução - e isso inclui a linguagem corporal e eventuais adereços, como a lingerie. No caso de Gisele, a exposição do corpo, antes de ser prova de submissão, é prova de poder. Trata-se de processo evolutivo, e não de mau gosto.

O que a ministra parece querer é que as mulheres sejam vistas como iguais aos homens em tudo. Mas isso, como mostra Gisele de forma tão eloqüente, não é verdade - ainda bem. É como disse Marilyn Monroe: "Eu não me importo de viver num mundo de homens, desde que eu possa ser uma mulher".

 

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