Países democráticos que sofrem com o terrorismo tiveram de elaborar uma legislação específica para lidar com o problema, por razões óbvias: sociedades cujos filhos morrem assassinados por homens-bomba quando estão em pizzarias ou discotecas demandam uma resposta excepcionalmente firme a essa covardia. O problema é que essa legislação com frequência se choca com direitos individuais consagrados no Estado democrático de direito, como o de ampla defesa e o da presunção da inocência.
Um exemplo paradigmático é o da prisão de Guantánamo, onde os EUA mantêm suspeitos de terrorismo presos indefinidamente, sem direito a julgamento e submetidos a tortura, enquanto se reúnem as evidências contra eles ou enquanto eles possam ser úteis para fornecer informações que ajudem a evitar atentados. Os presos vivem um limbo jurídico, uma vez que não são acusados formalmente de nada. É precisamente o caso de Adnan e de outras centenas de presos em Israel.
Adnan não é um santo. Já foi preso diversas vezes, inclusive pelos próprios palestinos. Contudo, Israel não revela o motivo pelo qual o deteve desta vez, sob o argumento de que as investigações correm em sigilo - e é esse o problema central.
Israel, assim como os EUA, o Reino Unido, a Espanha e outros países que são alvos de terroristas, entende que o combate a eles só pode se dar nas sombras, de modo assimétrico e irregular, porque eles não são criminosos comuns. Há uma boa dose de razão nessa estratégia, porque os terroristas são fanáticos que obedecem a regras completamente diferentes das regras da sociedade que atacam. O alvo considerado "legítimo" pelos terroristas é simplesmente qualquer um - crianças, mulheres e idosos, inclusive - porque o objetivo é disseminar o pânico de modo permanente.
No entanto, a legislação excepcional para lidar com o terrorismo, com todos os dilemas éticos que ela carrega, dá munição aos simpatizantes dos grupos radicais, que cinicamente fazem equivalência moral entre o terror e suas vítimas. Gente como Adnan acaba sendo objeto de campanhas humanitárias estridentes, com a óbvia intenção de constranger países ocidentais que são alvo de terrorismo, enquanto as vítimas inocentes dos terroristas recebem desses "humanistas" apenas o silêncio cínico.
Nada disso, porém, deve servir de desculpa para o fato de que, no frigir dos ovos, o palestino Adnan e outros tantos como ele, por mais assassinos frios e sanguinários que sejam, tiveram sonegados os direitos que são universais. Em nome da luta contra a barbárie, governos democráticos estão descendo ao nível dos bárbaros.