Os limites do chavismo

A oposição venezuelana corrigiu seu erro histórico de 2005, quando boicotou as eleições legislativas, e saiu-se bem das urnas na votação de anteontem. O bloco, que não é tão unido quanto parece, obteve cadeiras suficientes para tirar dos chavistas a possibilidade de aprovar emendas constitucionais sem negociar com ninguém. Diante disso, comprovaram-se os limites do chavismo em sua própria casa, mesmo com um processo eleitoral que incluiu mudanças legais para dar aos governistas mais cadeiras mesmo que tivessem menos votos. A dúvida, agora, é saber como Hugo Chávez reagirá a seu enfraquecimento - de resto previsível ante o desastre de sua administração de perfil cubano, que nem em Cuba funciona mais.

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Em seu twitter, Chávez já avisou que os resultados da eleição o animam a "aprofundar a revolução". É a senha para tentar manter unido o bloco governista, formado por todo tipo de oportunista ideológico que se abrigou sob as asas do "comandante" para usufruir das benesses da máfia corrupta instalada no Palácio Miraflores. Não é improvável que esses partidos, percebendo que a maré chavista pode virar até a eleição presidencial de 2012, abandonem o barco. Como a eleição de domingo mostrou, Chávez não é o líder invencível que se supunha. Pelo contrário: ele é um ditador desgastado por anos de promessas não cumpridas, de enfrentamento interno e externo e de destruição da economia do país. As rachaduras em sua base de poder podem acabar expondo divisões que se julgavam controladas.

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Por enquanto, pelo menos publicamente, Chávez não dá sinais de que sentiu o golpe. Mas sua serenidade pós-eleitoral contrasta com seu habitual histrionismo em vitórias passadas, obtidas depois de enorme pressão da máquina chavista contra os limites da democracia.

Por essas razões, mesmo o governo brasileiro, tão leniente em relação aos desmandos do chavismo, reconheceu que foi "um avanço" o fato de Chávez "respeitar o resultado" das eleições, como disse Celso Amorim. E nosso chanceler se permitiu uma concessão que deveria servir tanto para os chavistas quanto para os simpatizantes do lulismo: "A oposição às vezes é muito incômoda. Mas é importante (que ela exista) para discutir e dialogar".

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