Há passagens particularmente delirantes. Na primeira, Fidel "reflete" sobre o afundamento da fragata sul-coreana Cheonan, em episódio que matou dezenas de marinheiros. Como se sabe, Seul acusou o governo norte-coreano, e uma investigação internacional concluiu que a acusação tinha fundamento. Para Fidel, contudo, vale mais a lenda urbana segundo a qual o navio foi afundado por uma mina americana. Isso mesmo: Fidel acredita que foram os EUA os responsáveis pelo incidente, com propósitos inconfessáveis. Vai na mesma linha da tese segundo a qual o homem não foi à Lua ou que os americanos (e judeus, claro) estão por trás do 11 de Setembro. Será inútil tentar contrapor o delírio de Fidel a qualquer forma de argumento factual. Nas próprias palavras do ditador de pijama, a versão de que foram os americanos que afundaram o navio sul-coreano é "coerente com o que aconteceu". E, na cartilha antiamericana, como se sabe, os fatos são irrelevantes; basta a "coerência".
O mesmo vale para as "intenções" dos EUA em relação ao Irã. Para Fidel, os americanos atuam para que Israel ataque os iranianos, porque Washington tem o "desejo ardente de varrer o governo nacionalista que dirige o Irã". Pouco importam as gestões da Casa Branca para impedir que Israel faça uma besteira, e pouco importa que o tal "governo nacionalista que dirige o Irã" seja, na verdade, um regime teocrático messiânico que visa a estabelecer um domínio imperialista sobre o Oriente Médio. Para Fidel, e para aqueles que o idolatram, quanto mais primário o discurso, melhor -e isso significa colocar os EUA como pivô dos males do mundo. Todas essas "diabólicas notícias", segundo Fidel, acontecem "entre um jogo e outro da Copa do Mundo", de modo a que "ninguém se dê conta delas". Perversos, esses americanos.
Mas o último delírio de Fidel em sua "reflexão" - e o mais imperdoável deles - é a afirmação segundo a qual Maradona é "o melhor jogador da história do futebol".