Mas podemos inverter a equação: como a camareira é mulher, negra e pobre, e Strauss-Kahn é homem, branco e rico, é virtualmente impossível vê-lo como vítima, porque ele jamais será a parte fraca do caso - de acordo com a visão de que mulheres negras pobres serão sempre as vítimas e os homens brancos ricos serão sempre os algozes.
Strauss-Kahn foi tratado como culpado desde o primeiro minuto do episódio justamente porque não dava para presumir sua inocência ante uma vítima tão caracterizada como tal. Assim, destruir a vida de Strauss-Kahn pode ser visto como um ato de expiação de culpas coletivas seculares, por causa da escravidão negra e da marginalização de negros, pobres e mulheres na sociedade, mas nada teve a ver com Justiça de fato.