O caso Bin Laden e o duplo padrão moral

O governo americano está sob intenso escrutínio de uma parte da opinião pública mundial por ter levado a cabo uma operação secreta para matar o terrorista Osama bin Laden no Paquistão. O presidente Barack Obama é acusado de ter autorizado uma ação ilegal, de ter mandado matar um homem desarmado e de ter optado pelo assassinato de Bin Laden em vez de levá-lo a julgamento em um tribunal internacional. Tudo isso é, de fato, passível de debate, embora a maioria dos especialistas em direito internacional considere que, de modo geral, não houve ilegalidade na operação. O problema, no entanto, é que, enquanto Obama é alvo de críticas crescentes, o Paquistão, onde o responsável pelo 11 de Setembro estava confortavelmente instalado, aparece como vítima. Definitivamente, não é.

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O romancista indiano Salman Rushdie escreveu artigo em que expõe claramente o duplo padrão moral nesse caso todo. Mostra que a versão segundo a qual Bin Laden liderava a Al Qaeda desde o Paquistão sem o conhecimento de Islamabad é simplesmente ridícula. Além disso, Rushdie disse ter ouvido de jornalistas paquistaneses que o lendário líder do Taleban, mulá Omar, está no país, sob proteção do serviço secreto do Paquistão.

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Estranho mundo, esse nosso. Enquanto se cobra o "direito à defesa" de um terrorista responsável por milhares de mortes e por obrigar os governos a mobilizar vastos recursos para impedir novos ataques contra civis inocentes, enquanto o país que abrigou esse terrorista é visto como vítima de "violação de soberania", o governo americano é censurado por ter liquidado um inimigo implacável numa operação relativamente limpa.

Rushdie termina seu artigo sem deixar dúvidas sobre quem deveria ser o verdadeiro vilão da história: "Enquanto o mundo se mobiliza esperando a resposta dos terroristas à morte de seu líder, deveria também exigir que o Paquistão dê respostas satisfatórias às duríssimas questões que têm de ser feitas agora. Se o país não der essas respostas, talvez tenha chegado a hora de declará-lo como um 'Estado terrorista' e expulsá-lo da comunidade das nações".

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