O ataque em Toulouse e o antissemitismo malandro

Um homem matou a tiros três crianças numa escola judaica de Toulouse, na França. O pai de duas das crianças também foi morto. Não se sabe ainda quem é o assassino nem quais eram suas motivações, mas parece claro que se trata de um ataque contra judeus.

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As terríveis circunstâncias desse episódio são menos importantes, no entanto, do que algumas das reações a ele. No site do jornal israelense Haaretz, há leitores que conseguiram concluir que as crianças mortas "pagaram o preço das políticas de Israel". Ou seja: é quase como se dissessem que essas crianças, por serem judias, mereciam morrer, uma vez que o Estado que as representaria, como entidade nacional, é a própria encarnação do Diabo. De acordo com essa lógica, os judeus do mundo todo não poderão se queixar se, eventualmente, forem alvo de uma campanha de extermínio.

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Esse tipo de raciocínio faz lembrar a famosíssima "profecia" de Hitler, feita em 30 de janeiro de 1939. Em discurso ao Reichstag, ele disse que, "se os banqueiros judeus internacionais, dentro e fora da Europa, conseguirem atirar as nações mais uma vez numa guerra mundial, então o resultado não será a bolchevização da Terra, e por conseguinte a vitória da Judiaria, mas a aniquilação da raça judaica na Europa". Ou seja: Hitler atribuiu às próprias vítimas a responsabilidade pela guerra que ele mesmo estava provocando e pelo genocídio que ele mesmo empreenderia pouco tempo depois.

Hoje o antissemitismo malandro não se escora mais, ou não somente, na perversidade dos "banqueiros judeus internacionais". Ele se escora no que se convencionou chamar, genericamente, de "políticas assassinas" de Israel - um rótulo frouxo o bastante para que não seja possível discuti-lo seriamente e que, de tantas vezes repetido, soa como uma verdade incontestável.

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