As seleções de futebol são, em tese, a reunião dos mais capazes para representar o país em torneios internacionais que muito se assemelham a "guerras". A maioria dos jogadores das seleções mais competitivas, porém, não atua em seu país, ou então ganha dinheiro demais para se incomodar de verdade com questões como "amor à pátria". Quando muito, eles se adaptam à estratégia de marketing que envolve as seleções e as obriga a incorporar o ufanismo como algo natural, mesmo que os atletas nem remotamente sejam os soldados que esse discurso procura criar. O patriotismo vira produto, como prova o "guerreiro" Dunga no comercial de cerveja.
Quando um jogador revolve dizer "não", quando decide romper a estrutura e questionar as decisões do comandante dos "guerreiros", como fizeram Anelka e alguns de seus companheiros, a suposta "unidade nacional" se prova uma fraude. Para os jogadores de futebol, há questões tão ou mais importantes que "pátria". Solidariedade é uma delas.
Mas até o governo francês apelou ao sentimentalismo barato e à crucificação dos rebeldes, ao dizer que o caso Anelka ameaçava se transformar num "desastre moral". "É a imagem da França que está sendo manchada", disse a ministra dos Esportes, Roselyne Bachelot, como se o caráter de todo um país pudesse ser medido pelos atos de um punhado de jogadores de futebol.