Sobre o caso específico do Egito, por outro lado, Obama está pisando em ovos porque o ditador Hosni Mubarak é aliado estratégico. Num primeiro momento, seu governo se limitou a pedir "calma" e a dizer que o governo de Mubarak é "estável". É o mesmo entendimento que tem Israel - que não se manifesta publicamente sobre o assunto, mas, reservadamente, considera que Mubarak não corre risco de cair, porque seu poder é fortemente garantido pelo Exército.
No entanto, com a violenta dinâmica dos acontecimentos - e a volta ao Egito do Nobel da Paz Mohammed ElBaradei, disposto a usar sua credibilidade para liderar a mudança de regime -, o presidente americano viu-se obrigado a arriscar-se um pouco mais no campo da retórica. Agora, Obama diz que esta é a oportunidade para "reformas" no Egito. Não significa mudança de regime, mas alguma abertura (o vice-presidente americano, Joe Biden, conhecido por suas gafes, disse que nem considera Mubarak um ditador). O problema dos EUA é que há o risco de que a alternativa a Mubarak seja a Irmandade Muçulmana, imenso grupo fundamentalista de oposição. O primeiro sinal do problema apareceu quando a Irmandade, após silenciar sobre a crise, anunciou que participará dos protestos previstos para hoje.
Assim, como não há nenhuma garantia de que o incipiente movimento árabe pela democracia resulte em democracia efetiva - a tumultuada desintegração da URSS é um exemplo histórico desse possível impasse -, ainda é muito cedo para sabermos que tipo de regime emergirá de toda a confusão. As perspectivas, porém, não são animadoras, porque, na maioria desses países, a oposição democrática ou é fraca demais ou foi inteiramente destruída, abrindo caminho para a substituição de uma autocracia por outra.