Está aberto o caminho para o recrudescimento de sua "revolução", que significa estatização em massa e onipresença do Estado na economia, além de fortalecimento da militância de seu governo em conselhos comunitários que acabam sendo os olhos, os ouvidos e os músculos do Estado país afora, esvaziando a política tradicional.
Os dez anos de Chávez viram a Venezuela progredir em alguns aspectos importantes - a pobreza extrema foi reduzida à metade e o número de pensionistas do governo triplicou. O problema é que ele procurou deliberadamente confundir-se com os venezuelanos pobres, criando a impressão de que eles são uma coisa só; portanto, ser contra Chávez seria equivalente a ser contra os pobres. Por esse motivo, o presidente, em seu discurso de vitória, conclamou a oposição a reconhecer o "triunfo do povo bolivariano". Ou seja: há os venezuelanos que são contra Chávez e há os "bolivarianos", população de um país no qual os opositores de Chávez são vistos como estrangeiros.
Além disso, ser contra Chávez é o equivalente a ser a favor do "império do mal", uma entidade inventada pelo caudilho para desviar a atenção de sua ineficiência administrativa - cujos sinais mais evidentes são a corrupção, o desabastecimento de alimentos, a violência urbana desenfreada e a inflação superior a 30%.
Com o passar dos anos, a impressão de que Chávez e Venezuela são inseparáveis tende a se cristalizar ainda mais, e a alternância no poder, que é básica num regime democrático, será cada vez mais remota. Mesmo com todo o massacre da máquina chavista ao longo das últimas semanas, porém, ainda houve 45% do eleitorado que não se deixou convencer de que Chávez deveria ter a chance de se perpetuar na presidência. Portanto, resta uma esperança de que a democracia vença a apatia e volte a prevalecer um dia na Venezuela, ainda que a oposição a Chávez, por ora, seja uma piada.