O anúncio de Obama tem um óbvio aspecto eleitoral, já que o presidente precisa criar fatos impactantes para compensar a crescente ira dos americanos com o estado da economia do país.
Mas o "timing" é perfeito por outro motivo: coincidiu com a derrota da ditadura de Muamar Kadafi na Líbia, que só foi possível graças ao auxílio militar da Otan. Um dos aspectos centrais da estratégia da aliança ocidental na Líbia foi a adoção de bombardeios aéreos sistemáticos e "cirúrgicos" para eliminar lideranças inimigas e abrir caminho para a infantaria dos combatentes locais. Sem perda de soldados, o desgaste de campanhas desse gênero é obviamente bastante reduzido.
A Guerra do Iraque, com centenas de milhares de soldados em terra, parece fazer parte do passado; o presente é o uso de "drones", pequenos aviões não tripulados que fazem reconhecimento e eventualmente bombardeiam alvos em terra. Foram usados pelos franceses e americanos na Líbia (consta que um "drone" desses atacou o comboio onde estava Kadafi em fuga) e são usados pelos americanos para matar insurgentes no Afeganistão ou terroristas no Iêmen e no Paquistão, poupando o desgaste de ter de levá-los para Guantánamo, outra excrescência da era Bush. Bin Laden, para ficar só num bom exemplo, foi morto numa ação que contou com o apoio decisivo de um drone.
A aposta nessa guerra "higiênica" fez o orçamento do Pentágono com os drones saltar de R$ 550 milhões em 2002 para R$ 5 bilhões neste ano. O mercado para esse equipamento não enfrenta recessão: há uma corrida no Oriente Médio, na Europa e na Ásia para comprar esses brinquedinhos letais.
EUA e Israel são os principais fabricantes, mas a China está correndo por fora, e com bastante apetite.