Ao dizer que condena o ataque "em qualquer língua", Peres dá um recado sutil: ele espera que, quando houver violência de palestinos contra israelenses, que esta seja igualmente condenada pelas autoridades palestinas - o que quase nunca acontece. Para recordar, quando os árabes controlaram Jerusalém, entre 1948 e 1967, os judeus e os cristãos foram impedidos de freqüentar seus lugares sagrados na cidade. Dezenas de sinagogas foram destruídas, e outras foram transformadas em estábulos.
Mas o princípio da civilização, do qual Israel se orgulha, não prevê, seguramente, a vingança como modelo de justiça. Se os árabes erraram no passado e se eventualmente ainda erram, isso não justifica que judeus devam atuar como bestas. O fenômeno dos ataques, que os próprios terroristas judeus chamam de "etiqueta de preço" - embutindo aí a ideia de troco -, se explica primariamente como resposta desses extremistas à violência de palestinos e também à destruição, pelo Exército israelense, de casas de colonos erguidas sem a permissão do governo.
Só essa explicação, contudo, não basta. A ainda incipiente onda de violência de extremistas judeus deriva de uma visão de mundo dentro do movimento sionista religioso, centrada numa ideia equivocada do que vem a ser o "povo eleito" - rótulo que lhes serve como autenticação de sua suposta superioridade. E, se há alguém superior, existe, em contrapartida, alguém inferior - isto é, os não-judeus, particularmente os árabes. A colonização da Cisjordânia é parte intrínseca dessa concepção - e nenhum governo israelense pode senão trabalhar para concretizá-la.
Essa visão ainda é bastante minoritária, mas, por ser parte da doutrina ensinada em algumas escolas religiosas judaicas em Israel, tem potencial de durabilidade e eventual expansão. Ademais, ela também está presente no discurso de uma parte do atual governo de Israel, que enxerga os palestinos como seres descartáveis. É contra essa situação que as vozes moderadas de Israel devem imediatamente se levantar - menos por causa de sua dimensão, que é pequena, e mais pela inaceitável mensagem de ódio que ela representa e que nada tem a ver com a democracia que os israelenses tanto dizem prezar.