E ainda tivemos Felipe Melo, que no segundo tempo confirmou a crônica de uma expulsão anunciada. Se no início do jogo, com o passe milimétrico que deu a Robinho para fazer o gol brasileiro, Melo surpreendeu seus críticos, na etapa final ele tratou de desfazer a ilusão de que enfim havia se tornado um bom jogador.
A seleção brasileira, disciplinada e "fechada", como prescreve o dunguismo, parece ter deixado o futebol autêntico em segundo plano. E o futebol, como sabe quase todo brasileiro, não se resume a um jogo; é também um modo de confirmar a vocação do Brasil para a improvável aliança entre o individual e o coletivo, entre o malandro e o esquema tático, entre o "jeitinho" e as obrigações sociais. Na didática derrota para a Holanda, aprendemos que, com o dunguismo, a seleção deixou de ser essa representação, que nossos melhores jogadores parecem ter esquecido aquilo que Gilberto Freyre identificou, no futebol brasileiro, como o "conjunto de qualidades de surpresa, de manha, de astúcia e, ao mesmo tempo, de espontaneidade individual".
Numa Copa em que a Alemanha jogou um futebol mais "brasileiro" que o Brasil, é o caso de refletir sobre o que fizemos do nosso maior patrimônio cultural.