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Professor titular de Teoria Política da Unesp, Marco Aurélio Nogueira escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Um debate para acender esperanças

A civilidade e o esforço para buscar o que une sem esconder divergências foram o ponto alto do encontro realizado ontem entre presidenciáveis do DEM, do PDT e do PSDB

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Até por ter sido um primeiro e curto debate, o centro democrático tem bons motivos para comemorar a iniciativa do Centro de Formação de Lideranças (CFL), que promoveu ontem (1/7) um encontro entre Ciro Gomes (PDT), Eduardo Leite (PSDB) e Luiz Henrique Mandetta (DEM). Apresentados como presidenciáveis, os três mostraram afiados, sem titubeios e dispostos a mostrar as condições de possibilidade de uma convergência que não tem sido habitual na política brasileira.

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Pode-se lamentar o pouco aprofundamento de alguns temas, por exemplo sobre o papel do Estado, única questão que sugeriu uma divergência entre os debatedores, que se diferenciaram entre uma ideia de Estado intervencionista e outra de Estado regulador. Mas nem nesse terreno a diferença foi incontornável, já que todos salientaram a relevância da presença estatal na economia e nas políticas sociais. O debate se concentrou na questão da recuperação econômica, o que também dificultou a exploração dos temas propriamente políticos: o regime de governo, a reforma política, eleitoral e partidária. Mas no cômputo geral, o saldo foi positivo.

Ciro esgrimiu, com a firmeza de sempre, seu "Programa Nacional de Desenvolvimento", sempre por ele mencionado como estratégia para enfrentar a crise, ativar os sistemas de gestão e recuperar a economia, com atenção à crise atual e à condição dos mais pobres e vulneráveis. Eduardo Leite explorou seu sucesso como gestor estadual e municipal, dando ênfase à importância do controle fiscal e de boas práticas administrativas. E Mandetta, por sua vez, demonstrou estar atento aos desdobramentos da revolução tecnológica e à necessidade que o País terá de transferir renda por um largo período de tempo, tendo em vista a condição de miserabilidade e desemprego de parte importante da população.

Todos foram unânimes em se afastar categoricamente do governo Bolsonaro e de criticar com firmeza o desmonte institucional, os ataques à democracia e o modo como foi enfrentada a pandemia.

Seria possível dizer que o debate mostrou que o centro democrático avançará (ou não) por uma trilha social-liberal, com inflexões mais desenvolvimentistas (Ciro) e mais pragmáticas, mas sempre com atenção para as liberdades democráticas, o crescimento econômico sustentável, a proteção social e o meio ambiente. A vacinação em massa, a defesa do SUS e de uma vigorosa política de saúde foram enfatizadas sem titubeios, assim como a educação, com a construção de uma escola mais atrativa e a valorização do professor.

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A civilidade e o esforço para buscar o que une sem esconder as divergências foram o ponto alto do encontro. Houve um excesso de generalidade, uma carência de diagnóstico e de um plano claro para impulsionar a política democrática e a recuperação de suas instituições. Pouco se falou do lado operacional e do sentido das pretendidas reformas estruturantes (fiscal, tributária, política, administrativa), coisas que os políticos brasileiros estão devendo já faz tempo. Mas a demonstração de que há algo vivo no chamado centro democrático foi um alento, que fez surgir uma chama a mais de esperança.

A questão, agora, é saber o quanto a vivacidade e a civilidade exibidas no debate irão se traduzir de fato em termos práticos efetivos e mostrar a viabilidade de uma convergência política e programática que só trará benefícios para o País.

 

Opinião por Marco Aurélio Nogueira

Professor titular de Teoria Política da Unesp

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