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Professor titular de Teoria Política da Unesp, Marco Aurélio Nogueira escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Tensões pré-eleitorais

Faltando um ano para as eleições de 2018, ainda é cedo para prognósticos certeiros. O palco está repleto de candidatos e pré-candidatos, pesquisas são feitas para avaliar o poder de fogo de cada um deles, mas o que prevalece mesmo é a dúvida e o vazio. A campanha vai indo para as ruas, naquela fase de balões de ensaio, declarações genéricas e olho atento nas pesquisas. Mas ninguém tem como prever os próximos meses.

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Atualização:

Não dá para saber nem sequer se os que lideram as sondagens serão candidatos ou conseguirão manter o pique nos meses subsequentes. Lula e Bolsonaro têm seus problemas e dificuldades, mas fazem de conta que não ligam. São os que mais investem em caravanas e comícios, porque serão os que mais perderão se não puderem concorrer ou se murcharem quando estiverem perto da praia.

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Uma boa prova do cenário embaçado em que se vive são as escaramuças, as tensões e a bateção de cabeças dos partidos perante o governo Temer. Ora juntam-se contra ele, atiçados por editoriais e reportagens globais, ora o elogiam como "campeão das reformas". Não escapam dessa flutuação nem sequer os partidos que lhe dão sustentação, como o PMDB e o PSDB, este último principalmente, constrangido numa posição politicamente difícil de ser sustentada. Ninguém deixa claro, por exemplo, se Temer é uma tragédia, se é bom para o País, se não passa de um "mal necessário" ou se é o melhor maestro que se tem no momento.

O PT fica fora dessa constatação. Mas não escapa da esquizofrenia geral. Agora, deu para admitir que o "golpe" contra Dilma contou com o apoio da maioria da população e se dispõe a fazer alianças com "golpistas" com a justificativa de que precisa recuperar os votos perdidos. Vai assim, tentando dar uma no cravo, outra na ferradura, soltando fumaça e névoa sobre o futuro, convencido de que a confusão o beneficia.

O fato é que não há um partido, ou uma coligação, que lidere e coordene, ainda que os maiores pretendam estar na direção. Em consequência, Temer apanha de todo lado, se recolhe, se finge de morto, mas segue no posto. Dentro dele, porém, reina o inferno. Num dia, um ministro boquirroto fala uma bobagem, em outro uma ministra pisa na bola de forma grotesca, no terceiro dia há declarações desprovidas de sentido. Chega a ser difícil dizer que se tem um governo, ainda que se tenha muita oposição.

A disputa pela sucessão de Temer não só está aberta, como espalha veneno e toxinas na vida política. Como há pouca coordenação e como os democratas parecem perdidos em meio ao tiroteio geral, ficam todos com a sensação de que está tudo dominando e pouco pode ser feito, com o que o carro segue em marcha inercial, a população aprofunda sua indiferença e a política vai-se embriagando com seus próprios dejetos.

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É um cenário estranho, porque embaixo, no mundo da vida real, as coisas parecem "normais", como se as coisas "lá de cima" não atrapalhassem. Há muita raiva e decepção, mas pouca disposição de luta, seja essa luta o protesto mais contundente, seja ela a preocupação em se preparar melhor para a disputa que se avizinha. A raiva, aqui, se traduz como veto e rejeição, condição que embala candidaturas mais estridentes, salvacionistas e performáticas.

A crise, no chão da vida, é de outra natureza e parece não refletir o que acontece no andar de cima.

Passam-se os dias, os escândalos se sucedem, Temer segue na defensiva, o marasmo geral ganha corpo, mas não surge uma iniciativa que se disponha a botar os pingos nos iis e iluminar a estrada.

Opinião por Marco Aurélio Nogueira

Professor titular de Teoria Política da Unesp

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