Reduzir investimentos em cursos de Humanas é o novo despropósito do governo na área da Educação. A ideia é focar em cursos que deem retorno para as famílias e preparem os alunos para o mercado de trabalho. Além de caolho, o pressuposto é preconceituoso e ignora a relevância das Humanidades na vida atual.
O presidente Bolsonaro usou sua conta no Twitter nesta sexta-feira (26) para confirmar que haverá um corte de investimentos nas faculdades brasileiras de ciências humanas. Em termos curtos e grossos, repetiu o discurso do novo ministro da Educação, que durante a semana afirmou que "a função do governo é respeitar o dinheiro do pagador de imposto" e, por isso, o ensino deve se voltar para a disseminação de "habilidades" para jovens e crianças, com o que haverá mais preparo para a entrada no mercado de trabalho.
Para o governo, "poder ler, escrever e fazer conta" é o mais fundamental. Exclui-se, desde logo, o saber pensar, o saber conviver, o saber apreciar o belo. O pragmatismo é rasteiro, na doce ilusão de que a educação garantirá a aquisição de ofícios que "gerem renda para a pessoa e bem-estar para a família delas", melhorando a sociedade.
Alguém poderia dizer que o governo deseja imprimir marca tecnocrática à sua política educacional. Antes fosse, ao menos o caminho seria desastroso mas conhecido. O governo, porém, quer escorregar mais para baixo, abandonando qualquer tipo de filosofia educacional. Mistura problemas pedagógicos com organização acadêmica, privilegia a caça à esquerda que em seu entender estaria alojada nas faculdades de Humanas, faz crítica ideológica sem qualquer avaliação de desempenho.
Ao atropelar a autonomia das Universidades e ameaçá-las com cortes e pressão, o governo mostra sua face arbitrária e destemperada. Demonstra ignorância e hostilidade a tudo o que pode fazer pensar. Muito provavelmente, não conseguirá ir além da produção de fumaça.
Afinal, as Humanidades não podem ser suprimidas por decreto, indispensáveis que são a um ensino superior de qualidade. O governo não sabe o que fazer com a Educação. Prefere oprimi-la, sem se dar conta de que ao assim proceder, está a destruir o pouco que já se construiu no País. Não colocará nada no lugar. Sua maior contribuição será semear pânico e confusão.
Disseminara agressões e ameaças, mas esbarrará na lógica dos fatos e na resistência de professores e estudantes.