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Professor titular de Teoria Política da Unesp, Marco Aurélio Nogueira escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Espalhadores de brasa

Ciro Gomes fala em organizar 'frentes', mas imagina avançar nessa direção mediante manobras de veto e exclusão, com direito a ofensas e estigmatizações.

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Atualização:

Cada pedaço da política nacional tem o seu espalhador de brasa, da direita à esquerda. Não é o caso de fazer uma lista, que seria extensa demais e não separaria os que têm algum peso e os que não passam de pluma ao vento.

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O fato é que na mesma semana em que os "conservadores" se reuniram em São Paulo para tentar unir a direita mais extremada e distribuíram pancadaria e platitudes por todos os lados, jurando de pés juntos que são "liberais", o outro lado da ponte também estremeceu.

Ciro Gomes disparou sua conhecida metralhadora, com a boca mais solta do que nunca. Numa só tacada, em entrevista ao UOL, disse que Luciano Huck é um estagiário, que Lula já não merece seu apreço político, que a burocracia do PT é tão corrupta quanto Sérgio Moro, que Bolsonaro renunciará, que alguns jornalistas são picaretas. E mais não disse por que não lhe foi perguntado.

Nas entrelinhas, a mensagem latejou com clareza: confiem em mim, que estou pronto para salvar o País.

Falta unidade e coesão para onde quer que se olhe. Muitos falam em organizar "frentes" para fazer algo, mas imaginam avançar nessa direção mediante manobras de veto e exclusão, com direito a ofensas e estigmatizações. Dizem querer unir, mas antes fazem o possível para dividir e exasperar. Inflamam-se e exibem "firmeza" justo quando o País mais precisa de generosidade, moderação e serenidade.

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Ciro sabe o que está fazendo, é macaco velho, useiro e vezeiro em criar atritos e celeumas. Tem seu próprio plano de voo, é autocentrado e totalmente voltado para as próprias ambições. Conspira o tempo todo contra si próprio. Quanto mais bate, menos cresce. Diz estar pronto para combater a "radicalização odienta da burocracia corrompida do PT e do bolsonarismo boçal que está infernizando o debate", mas é o primeiro a jogar gasolina na fogueira.

Os que o seguem e aplaudem cegamente, porém, não entendem bem o que está ocorrendo. São pocket clones. Compram brigas burras e repetem como papagaios as frases de efeito de Ciro. Acham que os liberais não merecem lugar ao sol, que as redes cívicas estão a serviço do capital, que a deputada Tabata Amaral merece ser expulsa do PDT e apedrejada em praça pública.

Empáfia pouca é bobagem. Boca mole também. Servem, quando muito, para impressionar os que estão em busca de algum cabra macho alternativo. Não ajudam em nada a aprumar a democracia de que se necessita.

Opinião por Marco Aurélio Nogueira

Professor titular de Teoria Política da Unesp

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