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Professor titular de Teoria Política da Unesp, Marco Aurélio Nogueira escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Com Alckmin, PT busca atingir o eleitorado mais conservador

Aliança do ex-governador paulista com Lula é um sinal positivo, mas carrega incógnitas que precisam ser respondidas

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 Foto: Estadão

Com a filiação de Geraldo Alckmin ao PSB, ontem (23/03), deu-se o mais importante passo para a efetivação daquela que pode ser considerada a mais relevante manobra política com vistas às eleições de 2022. A formação de uma chapa Lula-Alckmin tem agora campo livre para ser celebrada e crescer.

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O ex-governador paulista não poupou palavras para justificar seu ato. Reconheceu que houve divergências no passado e que, hoje, o quadro é completamente diferente, dados os riscos que correm a democracia no Brasil. Diante do adversário principal, Jair Bolsonaro, Lula seria a liderança que poderia trazer novas esperanças para a população, o nome capacitado para formar uma ampla coalizão que governe o País.

A aliança Lula-Alckmin sobe ao palco carregando claros sinais positivos. Aproxima antigos adversários, dissolvendo ao menos parte da polarização paralisante que atravanca o País, e dá ao menos um indício de que um eventual governo Lula poderá estar bastante aberto para composições plurais que garantam a governabilidade e facilitem a aprovação de reformas estratégicas nas áreas mais nevrálgicas, a Educação, a Saúde, o Meio Ambiente, a Ciência e Tecnologia, além, é claro, de um novo modelo econômico.

Nada, porém, é fácil. A aliança sofrerá críticas e resistências. Elas virão, antes de tudo, das áreas mais à esquerda do PT, que entendem que Lula precisa radicalizar, em vez de ceder ao conservadorismo centrista. Alckmin, para essas áreas, simboliza um freio que segurará o ímpeto reformista que se se espera de um governo petista.

Resistências e críticas também haverá entre tucanos e "alquimistas", decepcionados com o passo dado pelo ex-governador paulista, que entregou sua biografia ao PT sem pedir nada em troca, nem sequer um naco programático. Para eles, o "antipetismo" de Alckmin se converteu, de um dia para outro, em compromisso e aplauso. Sua saída do PSDB não foi propriamente suave e deixou arestas.

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Críticas, resistências e decepções existem, em política, para serem processadas, assimiladas, superadas. Os próximos meses mostrarão em que medida e de que maneira isso ocorrerá.

Por ora, o mais importante é resolver a incógnita que cerca a aliança, qual seja, compreender o que de fato Alckmin agregará eleitoralmente a Lula. É evidente que ele entra no jogo para abrir portas conservadoras ao PT, sobretudo fora dos grandes centros urbanos, onde vivem os eleitores mais moderados e menos engajados, que poderão ser sensibilizados pela imagem contemporizadora de Alckmin, por sua linguagem de fácil entendimento, por sua fama de bom gestor.

Mas é preciso reconhecer, também, que hoje Alckmin é um político sem organização partidária própria. É quase um estranho no ninho do PSB e nada tem de afinidade com o programa socialista do partido. Seu maior trunfo é a "marca" que carrega, mas ela já pode ter se desgastado com o tempo. A questão sugere que precisará ficar claro o papel que Alckmin terá nas eleições e no eventual governo Lula: ele será uma cereja do bolo, um símbolo de moderação a enfeitar o programa petista, ou terá voz firme e função relevante no entorno de Lula?

A aliança também terá repercussões generalizadas nos diferentes níveis da federação. Poderá ajudar a que se desfaçam nós, assim como poderá trazer tensões adicionais onde os arranjos eleitorais estiverem mais custosos. Em São Paulo, por exemplo, passará por entendimentos com Marcio França e o próprio PSB, interessados no governo estadual. Guilherme Boulos saiu da disputa para apoiar Fernando Haddad e ajudar o Psol a formar uma bancada parlamentar mais forte. Em tese, abriu-se um quadro largamente favorável a Haddad.

A saída de Boulos, porém, não foi sem condições. Ele tem pretensões futuras, seja para disputar a Prefeitura de São Paulo em 2024, seja para ocupar um ministério no eventual governo petista. Especulações correm soltas.

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O fato é que, agora, Lula é um candidato imprensado por Alckmin, à direita, e por Boulos, à esquerda. Está fazendo acordos com ambos, sem poder definir para que lado penderá a balança, tanto para vencer as eleições quanto, sobretudo, para governar, caso venha a ser eleito.

 

Opinião por Marco Aurélio Nogueira

Professor titular de Teoria Política da Unesp

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