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Professor titular de Teoria Política da Unesp, Marco Aurélio Nogueira escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Chute forte, mas sem convicção

Ministro da Saúde mostra que, sob seu comando, não há como se ter esperança

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Não há como interpretar de outro modo a declaração do ministro Pazuello, feita ontem no Senado, de que 50% dos brasileiros maiores de 18 anos serão vacinados no primeiro semestre e a outra metade até o fim de 2021.

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O ministro mentiu. Para usar expressão mais amena, chutou forte e para cima, dobrou a meta, sem qualquer convicção. Até os senadores governistas ficaram boquiabertos.

Já o senador Rodrigo Pacheco foi aos repórteres para dizer que "precisa acreditar que as palavras de Pazuello são um compromisso", que será monitorado pelo Congresso Nacional.

O presidente do Senado flutuou. Endossou Pazuello, e por extensão o governo, mas também entregou a cabeça do ministro da Saúde numa bandeja dourada para o júri popular e a opinião pública. Uma no cravo, outra na ferradura.

O caso não seria importante se não estivéssemos em plena pandemia, com mortes em crescente. No ambiente atual, ele só demonstra como estamos mal parados, ainda que se proclamem movimentos a torto e a direito. Logo na manhã seguinte à fala do ministro, os jornais noticiavam que o País só tem estoque para mais oito dias de vacinação. Algum tantinho poderá aparecer na próxima semana, mas não há informações sobre negociações e compras.

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Pazuello tenta mostrar força, mas está a cada dia mais frágil. Não tem competência técnica para gerir um ministério complexo como o da Saúde e muito menos para enfrentar a crise sanitária. Já está investigado por omissão na tragédia de Manaus e com uma ameaça de CPI no cangote. A cada dia mostra que, sob seu comando, não há como se ter esperança. Quem viver verá.

Enquanto o ministro resfolega e retarda o passo, o ambiente geral vai assistindo à busca sôfrega de protagonismo que, como se sabe, acaba quase sempre levando a que se vá com sede excessiva ao pote. Nada que possa ajudar à democracia e ao encontro de saídas para o enrosco em que nos metemos.

Opinião por Marco Aurélio Nogueira

Professor titular de Teoria Política da Unesp

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