Um é o cálculo da vitimização política. Lula calcula que resistir é preciso e que, entrincheirado no sindicato, de lá sairá espetacularmente, se possível com algum confronto policial, para entrar de vez na história. Acredita que conseguirá "parar o país" e permanecer no centro da política quanto mais mostrar resistência e inconformismo.
Moro e a PF, por sua vez, calculam que não há motivos nem para oferecer palco a Lula, nem para acelerar exageradamente sua prisão. Lula, afinal, está recolhido em um recinto fechado, quase numa prisão domiciliar. E qualquer ato de força agora, mesmo que se baseie na força da lei, produzirá mais estrago que benefício.
Há o cálculo dos advogados de Lula, mais propensos a sair do enrosco, e o cálculo da ala política que o cerca, mais propensa a ver até quando a resistência poderá render dividendos políticos. As alas negociam entre si e tentam chegar a algum consenso. Consta que Lula permanecerá no sindicato até o final da missa em homenagem a sua mulher, Marisa Letícia, durante a manhã do sábado. Advogados informaram aos negociadores que o ex-presidente pretende se entregar em São Paulo após a celebração. Mas nada disso é certo e seguro.
Há o cálculo dos políticos, que precisam encontrar meios de assimilar a prisão e a resistência de Lula, de modo ou a evitar que invadam demais o campo eleitoral ou a possibilitar sua utilização como combustível eleitoral. Os candidatos já lançados, em particular, estão de olhos bem abertos, tentando descobrir se o melhor é prestar solidariedade a Lula, exigir o cumprimento da lei ou explorar politicamente o fato. Podem tentar, também, combinar estas opções.
E há o cálculo dos democratas, que gostariam de ver a decisão judicial ser cumprida sem tensão e sem postergações artificiais.
O cálculo de Lula é de risco. Se errar na dose, facilitará a decretação de outras formas de prisão, a cautelar, a preventiva. Poderá ser dado como fugitivo. Seus recursos judiciais, seus pedidos de liminar ou habeas corpus, estão sendo seguidamente negados. Fachin acabou de negar mais um, mantendo a ordem de prisão do juiz Sérgio Moro. E não é líquido e certo que a solidariedade popular se fará presente de forma intensa, massiva, e por longo tempo.
O cálculo da Justiça é baseado na paciência e na força da lei. Para Moro em particular, sendo dada uma condenação, é preciso executar a pena.
Os democratas, por sua vez, ficam na torcida, na expectativa de que a pendência não se arraste desnecessariamente e não incendeie o país, que, a rigor, tem muito pouco a ver com tudo isso.
Todos esses cálculos, evidentemente, podem se mostrar equivocados.