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Professor titular de Teoria Política da Unesp, Marco Aurélio Nogueira escreve mensalmente na seção Espaço Aberto

Opinião|Burrice política e arrogância travam a terceira via

Quanto mais o centro democrático e a esquerda demorarem para se entender, mais trunfos encherão a caixinha bolsonarista

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 Foto: Estadão

Causa espanto a dificuldade que os partidos da chamada terceira via têm de atuar com racionalidade política. Há esforços para transformar em lei o compromisso assumido, meses atrás, para encontrar um critério que unifique esses partidos em torno de um só candidato à Presidência. Mas nada sai do lugar. Chegou-se mesmo a encomendar uma pesquisa qualitativa para avaliar os índices de aprovação e rejeição dos dois nomes que disputam a posição: Simone Tebet (MDB) e João Doria (PSDB). A pesquisa deve ser divulgada hoje, mas não há nenhuma garantia de que seus resultados serão respeitados.

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Isso porque o desentendimento é geral na área. O PSDB se estilhaça em uma luta interna que não parece ter fim. Dória, seu pré-candidato, não conseguiu aceitar que uma coisa é ser aprovado pelo PSDB, outra coisa, bem diferente, é ser escolhido candidato unitário de uma frente democrática de centro, juntamente com o MDB e o Cidadania. Há tucanos que alegam que Dória está correto em ameaçar judicializar a questão, caso não seja o escolhido. O que, em poucas palavras, significa dizer que sairá candidato de qualquer maneira, seja qual for a decisão dos demais partidos.

Se Simone Tebet fizer o mesmo e o Cidadania ficar pendurado na corda, a frente democrática de centro morrerá na praia, confirmando o vaticínio de vários políticos, que não a veem como possível e acreditam que a disputa eleitoral de outubro será mesmo entre Lula e Bolsonaro, num segundo turno antecipado. Esse amontoado de pessoas que pensam assim poderá derivar tanto para engordar os votos de Lula quanto para inchar o balaio de Bolsonaro. Ou seja, temos aí uma variável fora de controle.

Com um fraseado menos elegante, pode-se dizer que a situação mostra que há doses elevadas de burrice política no terreno da terceira via. É uma burrice misturada com cegueira e arrogância personalista. A mesma, aliás, que promoveu a vitória de Bolsonaro em 2018. E que não é exclusividade do centro democrático. No universo petista, por exemplo, há manifestações semelhantes, desferidas pelos ataques das alas "esquerdistas" aos partidos de centro e à tentativa que fazem de escolher um candidato unitário. Batem-se cabeças onde deveria haver apertos de mãos.

A burrice política não prejudica Bolsonaro, que não faz política com primeiras intenções, mas sempre com segundas ou terceiras, com os olhos mais nos amigos e familiares do que no bem comum, mais interessado em agregar os extremistas de direita em torno de bandeiras estapafúrdias do que em governar o País. Quanto mais o centro democrático e a esquerda demorarem para se entender - em torno sobretudo de um padrão elevado de campanha política e de um programa mínimo para governar --, mais trunfos encherão a caixinha bolsonarista.

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Nessa toada, dá bem para imaginar com chegaremos às urnas de outubro e, sobretudo, ao início do próximo governo.

Opinião por Marco Aurélio Nogueira

Professor titular de Teoria Política da Unesp

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