Dá perfeitamente para entender a vontade de Lula de formar uma chapa Haddad-Marta para disputar as eleições de 2020 em São Paulo. O PT precisa concorrer para ver se recupera o crédito perdido, e os dois ex-prefeitos são uma boa vitrine, para o bem e para o mal.
O que não dá para entender é que Marta aceite a jogada, justo ela que tem se movimentado em favor de uma "frente democrática ampla" e que, como se não bastasse, conhece bastante bem o PT e deve saber o que há por trás da manobra.
O mais curioso é que a maior resistência à ideia parece vir de Haddad, meio cansado de guerra, que avalia serem remotas as chances de a esquerda se sair bem nas eleições de 2020.
Enquanto isso, há (pré)candidatos de sobra no pedaço. Pelo centro, pela direita e pela esquerda.
A impressão é que a turma não aprende e está disposta a fazer o mesmo furdunço divisionista de 2018.
Em vez de uma frente democrática contra a extrema-direita - algo que reúna o centro, a esquerda e os liberais, os partidos e os movimentos -, o que se delineia é a prevalência do mesmo espírito de cada um por si e todos contra todos. Nos espaços de esquerda, há até quem fale em "frente popular".
Não é difícil imaginar o que tenderá a acontecer se for essa mesmo a perspectiva.
Os paulistanos, em particular, ficam à margem, pois nenhum dos (pré)candidatos acenou com qualquer ideia substantiva a respeito da cidade, da vida urbana, de seus problemas, de suas potencialidades. Vão dizer que ainda não é hora de falar em programa, que isso aparecerá depois. O problema, porém, não é de programa, mas de projeto político com P maiúsculo: em vez de articulações eleitorais, o que se espera é que apareça alguém para fazer uma boa articulação de ideias e ideais.