Diante do avanço das facções, sejam elas majoritárias ou minoritárias, a tirania de uma ou de outra seria indesejável e assim, para proteger os direitos e garantias individuais o Judiciário poderia exercer um papel contra majoritário ao defender os princípios basilares da Constituição das maiorias momentâneas. O argumento é válido e mostra uma preocupação com a volatilidade da opinião pública e com a polarização dos eventos. Por não ser eleito, o Judiciário deveria decidir sobre questões políticas (principalmente aquelas já em discussão dentro das Casas Legislativas) apenas de maneira extraordinária, excepcionalmente para proteger as minorias da sanha majoritária em querer que todos se comportem de forma igual, destruindo e ignorando a diversidade, ou para evitar que o Legislativo ou Executivo ferissem frontalmente a Constituição, ao aprovar leis inconstitucionais.
Entretanto, a formação de consensos em parlamentos com alta fragmentação partidária e alto custo de coordenação faz com que diversas matérias de extrema importância para a sociedade se percam nas inúmeras discussões dos colegiados do Legislativo, como a Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) ou até mesmo nas comissões especiais. Entretanto, não pode a impaciência da sociedade impor à Suprema Corte uma responsabilidade que não é sua. Não é função do Supremo Tribunal Federal dar by-pass no Congresso Nacional em todas as demandas que lhes chegam. É preciso antes de tudo parcimônia ou mais especificamente, autocontenção. No Brasil juízes de tribunais (ou ministros) não podem ser removidos, nem ter os salários diminuídos. A única forma de o Executivo ou o Legislativo atacarem o Judiciário é não aprovando reajuste ou, em último caso, impeachment.
Um Congresso que remove do poder um Presidente da República, pode remover um ministro da Suprema Corte. Quando as decisões eram entre quatro paredes e restrita às partes, o Supremo Tribunal Federal não estava tão exposto como agora, principalmente com as decisões sendo televisionadas em tempo real. Parte da população está atenta às suas decisões e vão criticá-las quando não lhes forem convenientes.
Dessa forma, o STF hoje sofre mais com o controle popular do que com o controle dos demais poderes. Entretanto, é bom não abusar do poder contra majoritário, pois como excepcionalidade não pode virar regra sob pena de desequilibrar a relação com os demais poderes. É preciso saber dizer não.