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A Ciência Política e um olhar sobre os Legislativos

Quem são nossos representantes? Um olhar sobre os deputados federais pretos

Apesar de serem uma maioria percentual dentro da população brasileira, os negros não estão presentes de forma significativa dentro dos poderes políticos. Na Câmara dos Deputados, os negros representavam 24,36% dos eleitos em 2018; se mantivermos apenas os pretos, eles representam 4,09% dentro de um universo de mais de 55% da população brasileira autodeclarada preta ou parda. Mesmo tendo crescido ao longo dos últimos anos, essa representação ainda não pode ser considerada descritiva da sociedade. Conforme a literatura, a presença desses deputados pode trazer o agendamento e a discussão de determinadas pautas outrora segregadas, em conjunto com um processo diferente de representação e interação com seus eleitores, a partir de sua comunicação, em especial nas redes sociais digitais.

Por Djiovanni Marioto
Atualização:

Desse modo, este texto vem para lançar luz sobre os deputados federais autodeclarados pretos da 56ª legislatura e, para a sua construção, elenco três perguntas fundamentais para observá-los: Qual o perfil dos deputados federais pretos da atual legislatura? Como eles estavam presentes nas redes sociais? A temática racial estava presente em sua comunicação?

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Para responder tais indagações, trago os resultados de minha dissertação intitulada "Black-out parlamentar: o processo de representação dos deputados federais autodeclarados pretos da 56ª legislatura brasileira, frente à comunicação em ambientes digitais."

A Assembleia Legislativa brasileira possui 513 cadeiras, compostas na eleição de 2018 por deputados autodeclarados brancos em sua maioria (75%), seguidos pelos pardos (20,27%), pretos (4,09%), amarelos (0,389%) e apenas um indígena (0,19%). Para o escopo desta pesquisa, filtramos apenas os 21 eleitos autodeclarados pretos.

Embora São Paulo seja o estado com o maior número de cadeiras (70), seguido por Minas Gerais (53), os estados que mais tiveram representantes pretos foram Rio de Janeiro, com seis deputados, seguido pela Bahia, com 5, enquanto Minas Gerais e São Paulo tiveram apenas 2 parlamentares cada, ao passo que Ceará, Maranhão, Pernambuco, Paraíba, Rondônia e Santa Catarina tiveram 1 parlamentar eleito cada. Das 27 unidades federativas brasileiras, apenas 10 tiveram representantes pretos, permanecendo 17 não representadas. Consolidando esses dados por região, a elite preta legislativa está dividida entre o Sudeste e o Nordeste, possuindo dez e nove deputados, respectivamente. Enquanto isso, as regiões Norte e Sul tiveram apenas um eleito cada, e a Centro-Oeste não possui nenhum deputado preto.

Ao reunir as informações sobre o perfil sociopolítico e como eles estavam presentes nas redes sociais, é possível perceber que algumas características se tornam predominantes entre eles; o fato de serem, em sua maioria, homens, de uma idade avançada, com um alto índice de instrução (superior completo), tendo em sua atuação profissional cargos políticos, como na câmara estadual e municipal, advindos de uma carreira política. Além disso, a maior parte é proveniente do estado do Rio de Janeiro e do Partido dos Trabalhadores.

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A partir das informações pessoais dessa elite política, traça-se um perfil tendo como base as características comuns que unem os deputados federais autodeclarados pretos da 56ª legislatura. O perfil encontrado se assemelha muito com o traçado entre 1983 e 1999 por Johnson III, demonstrando uma dificuldade do sistema político brasileiro, não só na entrada de minorias, mas também em seu perfil, que se assemelha muito às características majoritárias dos não negros dentro da câmara dos deputados e difere de grande parte da população brasileira.

Eles também estão preocupados com a presença nas plataformas digitais, com 14 dos 21 deputados possuindo um alto e médio índice de presença digital e seis deles possuindo contas ou páginas em todas as principais redes sociais. Muitas razões podem explicar tal achado, mas provavelmente a mais razoável estaria na maior profissionalização das assessorias de comunicação dos deputados federais. Talvez a estrutura já seja tão elevada que tende a relativamente nivelar por cima todos os deputados federais, diminuindo um pouco a importância de outros dados sociopolíticos para explicar a presença digital em si. Possivelmente, os deputados federais já compreendem essas plataformas digitais como partes inerentes de seus mandatos e sabem como é necessário não só estar presente dentro das redes sociais digitais, mas também manter uma interação contínua e crítica, avaliando o feedback de seus seguidores e usuários das plataformas digitais e como já se sabe da importância de tais meios para os resultados eleitorais, é bem provável que isso esteja normalizando a presença dos políticos em tais ambientes online.

Consonante a isso, a importância das redes sociais digitais está na construção de uma comunicação não inteiramente mediada pelas mídias tradicionais, tornando-as mais diretas e potencialmente mais plurais. Desse modo, a presença contínua nessas redes on-line pode ajudar na construção da governabilidade apoiada na consolidação ou mudança da sua imagem, permitindo trazer uma maior visibilidade destes políticos a partir de uma comunicação direta entre eles e seus representados.

Embora as eleições de 2018 no Brasil tenham consolidado as plataformas de mensagens instantâneas, como é o caso do WhatsApp, em um canal estratégico para o marketing eleitoral e um importante espaço que ampliava as discussões políticas, apenas seis dos 21 deputados pretos disponibilizam essa forma de comunicação em seus repositórios informacionais. Portanto, grande parte dessa elite estava preocupada com a presença digital, mas ainda não havia aderido este canal de comunicação direta dentro de seu mandato.

Ao observar as temáticas políticas dentro das páginas oficiais no Twitter, dos 10 deputados com maior presença digital, encontrou-se que essa elite política preta não só trouxe temáticas e um debate mais geral como também direcionou pouco a sua comunicação a grupos sociais específicos e publicou pouco sobre temáticas raciais dentro da amostra analisada.

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O objetivo aqui foi, para além dos números, olhar as características semelhantes e como esses políticos estão presentes dentro das redes sociais, pois ao ter contato com esses dados é plausível não só cobrar nossos representantes como também ter um voto consciente na eleição deste ano, pois, para além de pautas e ideologias, uma representação mais igualitária e plural da população brasileira é umas das grandes formas de levar e consolidar a democracia brasileira para todas e todos.[1]

[1] As referências e o debate acadêmico completo de revisão de bibliografia podem ser encontrados neste link para a dissertação de mestrado do autor.

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