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A Ciência Política e um olhar sobre os Legislativos

Que venha desordem na ordem

*Texto escrito por Marina Cano, Sócia Institucional na Legisla Brasil.

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Por Humberto Dantas
Atualização:

Quando começou a pandemia, muita gente foi atrás de referências que pudessem explicar o evento que estávamos vivendo e conseguissem projetar o futuro com um pouco mais de precisão. Não faltou referência de pandemias prévias. Recentemente, me deparei com um artigo que tratava dos períodos pós pandêmicos. Confesso que - talvez como toda brasileira neste momento - custei a cair a ficha de que o fim estava próximo. Mas, afinal, a vacina está chegando aos nossos braços e de nossos queridos, o que é sinal de que o momento pós pandemia, de fato, se aproxima. E o que podemos esperar dele?

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Uma das grandes consequências de momentos como este são as mudanças políticas. Isso porque quando as pessoas sofrem em grande escala, tendem a mudar suas posturas com relação aos trabalhadores. Formuladores de políticas, por exemplo, se preocupam majoritariamente em reduzir o desemprego.[1] E especificamente no contexto do covid-19, as pessoas em geral se tornaram mais avessas à inequidade, como aponta estudo da London School of Economics[2].

No curso da história, algumas destas mudanças explodiram em desordem política. Isso porque os desajustes das sociedades alcançam seus limites uma vez em maior evidência. Mas a pandemia do covid-19, tem um agravante ainda maior que diz respeito ao mundo político. Muita gente morreu por causa de más decisões políticas e não por causa de falta de controle sob a ciência, como aponta Yuval Noah Harari.[3]

Quando olho para todo este contexto, não consigo pensar em outra coisa senão "que venha a desordem!". Não faltam evidências para me provar que a sociedade brasileira precisa de ajustes. Mas como fiel otimista - ainda que cansada - , acredito que conseguimos; e mais do que isso, devemos fazer a "desordem na ordem".

E que raios isso significa? Significa que sonho para nossa vida pós-pandemia uma sociedade que cobre seus políticos, para que escutem a ciência e para que combatam as desigualdades; para que entendam que democracia não se faz só na hora do voto - e que está tudo bem mudar de ideia sobre ter depositado certo número nas urnas; para que apoiem organizações que têm trabalhado incansavelmente para a manutenção da democracia neste país.

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Por outro lado, sonho também com políticos que entendam a importância de destinar mais recursos para combater a crise do que fundos para se reeleger; que tenham legítimo compromisso de inovar em práticas e que não busquem tão somente um selo para eleição; que valorizem suas equipes e aproveitem de todo seu potencial para entregar suas promessas de campanha.

Sonho com uma sociedade engajada e com representantes comprometidos. E isso deveria ser esperar o mínimo; e não um sonho. Por isso, quando penso em mudança política, me vem à cabeça: que venha desordem no estado das coisas do cidadão-cliente e do político-falastrão, dentro da ordem democrática. Somente mudando nossos comportamentos, dentro das instituições que escutam a todas nossas vozes que vamos ajustar nossa sociedade. Só assim vamos avançar.

[1] What history tells you about post-pandemic booms

[2] COVID-19 has made us more averse to both income and health inequalities: https://blogs.lse.ac.uk/politicsandpolicy/inequality-preferences-covid19/

[3] 10 lições de Yuval Noah Harari para o futuro pós-Covid

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