(1) A excentricidade e a informalidade da comunicação da bancada da extrema-direita recém-eleita. A "confusão" no grupo, iniciada na noite do dia 06/12, tinha motivação bastante comum, intrínseca a qualquer grupo/partido com expressivo número de membros, que é a definição de lideranças na Câmara e no Senado. Sabemos que a nova legislatura só começará em fevereiro de 2019, mas desde o final do pleito os partidos/bancadas se reúnem para que essas decisões sejam tomadas. Diálogos com partidos aliados são costurados desde já, até aí tudo normal e dentro do que estamos acostumados a acompanhar via imprensa. Contudo, a novidade é que agora assistimos em tempo real as minúcias dos diálogos, o bate-boca, e a existência de divisões dentro de uma bancada sequer empossada. E assistimos não somente porque os prints vazaram para a imprensa, mas porque os principais envolvidos nas farpas, de um lado o deputado federal e filho do presidente eleito Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, e do outro, a jornalista e recém eleita deputada por São Paulo, Joice Hasselmann, levaram a continuação do acalorado debate para o público, do modo enfático que gostam de atuar em seus populares canais no Twitter. Sugiro que acompanhem, está tudo registrado;
(2) O papel da família Bolsonaro na articulação do novo Congresso. Os prints vazados sugerem que veremos um dilema bastante concreto, originado pelo modo que esses neófitos foram eleitos: o peso da "carona" de Jair Bolsonaro, que nitidamente favoreceu a votação da bancada do PSL, e a autonomia desses favorecidos tanto na formação das bancadas e articulações quanto em decisões que terão que tomar sobre os projetos encaminhados pelo Executivo. Como se não bastasse, há o deputado Eduardo Bolsonaro, que em 2019 estará no Senado, e promete, como as conversas vazadas sugerem, utilizar a cartinha do "meu pai disse e me autorizou" no momento que lhe for conveniente. Decorre daí que um grupo mais autônomo poderá ser criado, como Joice Hasselmam já sugeriu, convocando inclusive o presidente da legenda, Luciano Bivar, para a mesa de discussão. Sem dúvida já existe um racha na bancada e que será aprofundado conforme projetos e temas polêmicos foram trazidos para o novo Congresso;
(3) A autonomia do mandato. Analistas interessados na representação política costumam discutir qual peso o sistema eleitoral proporcional de lista aberta, como é o nosso para eleger os membros da Câmara dos Deputados, traz para o comportamento dos parlamentares. Afinal, são eleitos por seus próprios esforços, já que a definição da ordem da lista não é feita previamente pelo partido, e a eleição depende, em grande parte, do número de votos do candidato. O nosso episódio do zap revela que os atores envolvidos são todos campeões de votos, Hasselman é a mulher mais bem votada da história da Câmara, assim como Eduardo Bolsonaro, e ambos fazem questão de explicitar isso em suas biografias nas redes sociais. Se o primeiro é fiel ao seu pai e seu staff militar, a segunda já deixou claro que "não aceitará ordem de generais", em nítido recado ao protagonismo do senador eleito, também por São Paulo, Major Olimpío, que compõe a ala de militares da bancada. Hasselman, explorou ao longo da campanha a auto representação de "Bolsonaro de saias", mas faz questão de afirmar agora que sempre circulou por Brasília e tem sua própria rede de apoio. Se ficará isolada ou conseguirá reunir nomes que pensem como ela somente o passar dos dias - já que tudo acontece numa velocidade impressionante - dirá.
O episódio deixou bastante escancarado, ao menos no que depender da extrema-direita do Congresso, que a política de bastidores estará cada vez mais nua e crua, aos olhos do público atento às redes sociais. Qual o impacto disso para o processo legislativo e para a governabilidade? Ainda não sabemos, mas que venham os prints!