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A Ciência Política e um olhar sobre os Legislativos

O Ranking da Transparência Partidária e a opacidade como padrão das legendas

A Ciência Política tem se esforçado nos últimos anos, com sucesso, para mostrar que partidos têm um peso significativo dentro dos parlamentos. A ressalva fica para alguns estudos recentes que questionam a existência desse tipo de agremiação, de maneira organizada, em parlamentos pequenos. Isso representa dizer que enquanto na gigante Câmara dos Deputados e seus 513 parlamentares os esforços para a organização passam pelas legendas, na imensa maioria dos legislativos brasileiros, que possuem entre nove e onze vereadores, essa realidade não faria sentido. Não são poucos os estudos que inadvertidamente têm olhado para os achados federais para se debruçarem sobre a lógica local. Erro grave, mas sigamos em frente.

Por Humberto Dantas
Atualização:

Num blog que tem como objetivo observar o Legislativo é apropriado trazer uma discussão sobre os partidos políticos. O Movimento Transparência Partidária divulgou essa semana a primeira edição do que chamou de Ranking de Transparência Partidária. Trata-se de uma ferramenta muito simples para aferir o nível das informações que as 35 legendas brasileiras oferecem em seus portais nacionais na internet. Resultado: uma catástrofe. A transparência almejada se converte em opacidade quase absoluta.  Como se trata de uma primeira versão, os partidos podem se defender com argumentos do tipo: "não imaginávamos que alguém fosse pedir isso", ou "tudo o que a lei pede nós cumprimos, e parte dessas informações está no portal da Justiça Eleitoral". Respostas frágeis para quem tem como suposto público alvo um universo de 200 milhões de pessoas e teoricamente a democracia como princípio mãe.

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Isso porque os partidos políticos receberão, apenas esse ano, na forma do Fundo Partidário (quase um bilhão de reais), do fundo eleitoral criado para debutar nessa eleição (quase dois bilhões) e sob o formato de isenções tributárias para emissoras de rádio e TV veicularem a propaganda eleitoral gratuita (cerca de um bilhão) uma cifra assombrosa e, para muitos, necessária. Não discutimos aqui se esse deve ser o valor, e tampouco o objetivo é demonizar os partidos. Partimos da ideia puramente republicana de que qualquer centavo público é absolutamente "sagrado". Ademais, os partidos detêm o monopólio da representação eleitoral no país. Se o brasileiro vota na pessoa, como muitos afirmam, isso é problema de nossa cultura. O brasileiro, em tese e legalmente, vota é no partido. Disso ninguém escapa, pois os números na urna eletrônica sempre remeterão a uma legenda. Por fim, diante da opinião pública, não faltam pesquisas capazes de mostrar descrédito e desconfiança por parte dos cidadãos em relação aos partidos. Assim: faz sentido medir o nível de transparência partidária? Parece que sim, a despeito de algumas legendas, ao se depararem com os resultados pífios, desqualificarem o método. Tal atitude nos remete ao sujeito que mede a febre, descobre que está doente e telefona na fábrica de termômetros para se queixar do resultado. Paciência!

Assim, com base em tais aspectos basilares, o indicador foi criado e orientado por quatro eixos: contabilidade, dirigentes e filiados, procedimentos e estrutura partidária. Cada eixo foi composto por quatro variáveis, coisas simples, do tipo: prestação de contas com receita, despesa e patrimônio em formato aberto e detalhado. Simples não? Lista de filiados e dirigentes (com histórico, nesse segundo caso) com detalhes, incluindo posição no serviço público, o que certamente elevará bastante a conta do uso do nosso dinheiro apresentada no parágrafo anterior. Clareza nas regras para: escolha de dirigentes, seleção de candidatos e aplicação dos recursos. E aspectos ligados à fundação dos partidos (escolas de doutrinação e pesquisa), lista de funcionários da legenda e coisas do tipo. É pedir muito? Claro que não. Mesmo que a lei não determine, a questão não é apenas legal, é ética e moral.

Assim, com base em tais argumentos, resultados foram colhidos. Das 16 variáveis, nove não registraram ponto para qualquer partido - zero geral! Alguns atendem critérios mínimos ali expostos, mas estão longe de cumprir o que o indicador desejava. A legenda mais bem colocada foi o Novo, com 2,50 pontos num total de 10. O PT veio em segundo com 1,38. Os demais, ou seja, 94%: ficaram entre zero (PSL e PCO) e menos de um. Tragédia. Mas a luz é: seis partidos estiveram no lançamento do indicador e reconheceram que é possível aprimorar o nível de informações em seus sites. O indicador pode ter surpreendido, mas sua perenidade tratará de colocar o assunto na ordem do dia, e quem sabe, a partir de legendas mais transparentes, não começamos, de verdade, a construir uma democracia minimamente representativa?

Escrito em parceria com Marcelo Issa, advogado, cientista político e diretor do Movimento Transparência Partidária.

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Mais informações em www.transparenciapartidaria.org

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